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As letras publicadas referem a fonte de extração, ou seja: nem sempre são mencionados os legítimos criadores dos temas aqui apresentados.
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* 7.260 LETRAS <> 3.120.500 VISITAS * MARÇO 2024 *

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Canção da última idade

Letra e música de Carlos Paião
Repertório de Pedro Vilar

Texto declamado
Um dia falei de sonhos 
Quem sonhou que vivia
Passou por dias risonhos 
Mas, no fundo, não sabia

Andou nas sombras da vida 
Atrás da vida banal
Perdeu o amor à partida
Nada ganhou no final

Amigos que tem, são poucos
Ninguém lhe empresta calor
Porque ele chora e os outros 
Não querem saber da dor

Olhei para tudo e vi 
Os sonhos que não viveu
Chorei, quando percebi 
Que o sonhador era eu

Ai... há quanto tempo 
Foi que o mundo me largou
E deste lado 
Vejo o sol que me arrastou
Há quanto tempo fico assim 
Olhando o sonho atrás de mim
E vendo cada dia 
A aproximar-me mais do fim

Deus... com quantos braços 
Trabalhei a vida inteira
Que tenho eu hoje
Que mereça tal canseira
Não tenho nada do que quis
Onde ficou tudo o que fiz
Será que já não posso ter 
Esperança em ser feliz

Enquanto o sonho é louco 
Não há horas p'ra pensar
Agora o tempo é pouco
Só me resta recordar
Os anos em que a vida era um prazer
E o sonho não parava de crescer;
Eu era fadista nos momentos de lazer
Cantava um fadinho p'ra esquecer

Ai... agora é tarde 
P'ra vencer a solidão
De nada serve ter 
Um verso em cada mão
Não quero a pena de ninguém
A culpa é minha, eu sei-o bem
Somente gostaria 
De sentir-me sempre alguém

Enquanto o sonho é louco 
Não há horas p'ra pensar
Agora o tempo é pouco
Só me resta recordar;
Os anos em que a vida era um prazer
Cantando um fadinho p'ra esquecer
E o sonho não parava de crescer

Quem sou eu não sei

Maria de Lurdes Brás / Franklim Godinho
Repertório de Joana Veiga

Sou filha da noite escura
Passo os dias à procura
De quem me dê um carinho
Serei coisa em vez de gente
Qual foi a minha semente
Quem traçou o meu caminho

Serei verso de um poema
Personagem de uma cena 
Sonho ou realidade
Sou gaivota sem voar
Andorinha sem ter lar 
Sou mentira, ou sou verdade

Sou talvez folha caída
Dessa árvore ressequida 
Que o vento p'ró chão lançou
Pequena flor orvalhada
Sou tudo não sendo nada
Morro, sem saber quem sou            

A saudade de partir

Rosa Lobato Faria / Fernando Correia Martins
Repertório de Vasco Rafael 

Vinhas sem rota 
Sem saber onde pousar
Como a gaivota 
Que perdeu a direção
Não tinhas rua nem lugar
Não tinhas lua nem luar
Só a ansiedade 
De encontrar um coração

Dizes; sou tua
E é tão bom ver-te sorrir
E danças nua
Tens o dom de seduzir
Mas eu prevejo 
No calor de cada beijo
A viagem do desejo
A saudade de partir

És a aventura
És a cigana
És a ternura 
A aquecer a minha cama
Ao menos volta 
Se vais voar
Sê a gaivota 
Nos meus olhos cor de mar

Quebraste as asas 
Num país de ventos mil
Sem pão nem casa
Sem raiz e sem amor
Mas tinhas olhos cor de Abril
O sol de inverno no perfil
E nos cabelos o feitiço de uma flor

O teu perfume 
Traz o cheiro dos trigais
Teus beijos-lume 
São viagens siderais
Mas se é verdade 
Essa chama que em ti arde
Sem que vais dizer, mais tarde
Um adeus p'ra nunca mais

Porque te amo, Lisboa

Maria de Lurdes Brás / Martinho D’ Assunção
Repertório de Paula Cristina

Porque te amo, Lisboa
Me encanta tua grandeza
Vou no Cacilheiro à proa
Mirando tua beleza

Sete colinas são rotas 
Brilhando em noite de Lua
Bailas ao som das gaivotas 
Toda enfeitiçada e nua

O fado teu filho querido 
Por nós é tão adorado
Faz-nos perder o sentido 
Tem magia o velho fado

Ontem era só um sonho 
Hoje é já realidade
Sonhei um fado risonho 
Tenho fados de saudade

Sou gaivota transportada 
Nesse navio vou à proa
Estou por ti apaixonada 
Porque te amo, Lisboa

De corpo e alma

Jorge Rosa / Pedro Vilar
Repertório de Pedro Vilar

De corpo e alma vivo um desencanto
Na mágoa e no espanto
Do amor que perdi
De corpo e alma vivo a dor que eu canto
De te querer tanto
E viver sem ti

De corpo e alma, sentimento e vida
Vivo a despedida que nos foi feroz
De corpo e alma, sinto-te presente
D'alma e corpo ausente d
o que fomos nós

Não perguntes a ninguém

António Silva Reis / José António Sabrosa 
Repertório de Tony Reis

Não perguntes a ninguém
Porque é que te quero assim
Meu amor, tu sabes bem
A paixão que trago em mim

Já nem sei se as estrelas 
Têm o brilho mais fugaz
Ou se as noites são mais belas 
Que aquelas que tu me dás

Ou se as fontes cristalinas 
Com água fresca a correr
Me dão o amor e as estimas 
Desta força de viver

Respondo com a certeza 
De querer estar a teu lado
Com a força da natureza 
P’ra te cantar este fado 

Há fado

Maria de Lurdes Brás / Alfredo Duarte *fado cuf*
Repertório de Maria de Lurdes Brás

Há fado, no dizer destes meus versos
Emoção no soluçar de uma garganta
Há fado, nos meus passos tão dispersos
Amargura, na alma de quem canta

Há fado, no caminhar pela vida
No sol que brilha e em cada suspiro
Há fado, em cada noite perdida
Na madrugada e no ar que respiro

Há fado, no virar de cada esquina
No aperto de mão, num abraço amigo
Há fado, quando uma guitarra trina
Na noite que eu tenho como abrigo

Há fado, num sorriso amargurado
E neste meu destino fatalista
Se na forma de cantar, também há fado
Por sina ou por condão me fiz fadista

Como é que nasceu o fado

Francisco Branco Rodrigues / Alberto Simões Lopes *fado dois tons* 
Repertório de Vicente da Câmara 

Se há quem lhe interesse saber
Como é que nasceu o fado
Cantando vou responder
Porque estou bem informado

Ele nasceu, era fatal 
Num certo e tristonho dia
Duma união natural 
Prós lados da Mouraria

Ao nascer, logo é fadado 
P'la tradição, por virtude
E batizam-no de fado 
Na Senhora da Saúde

Fez-se adulto, quis sair 
Coisa a que ele não resiste
E foi a Alcácer Quibir 
Mas voltou 'inda mais triste

Foi nobre e foi plebeu 
É tudo onde a raça impera
P'los dotes que Deus lhe deu 
Foi amado p'la Severa

Mas eu não disse, afinal 
Quem foi a mãe, a meu ver
Ele é filho natural 
Duma guitarra qualquer

Minha loucura

António Silva Reis / Francisco Viana *fado vianinha*
Repertório de Tony Reis

Tu és a minha loucura
Tu és a minha paixão
Tu nem sequer és lonjura
Nem tão pouco solidão

És minha fada madrinha 
Senhora dos meus desejos
D'uma ternura que é minha 
Dada em lençóis de beijos

Sou todo teu loucamente 
No calor d’um forte abraço
E adormeço docemente 
Encostado ao teu regaço

Cai a noite e a madrugada 
Vem deitar-se ao nosso lado
Cobre-nos e sossegada 
Canta-nos baixinho um fado

Carroça da vida

Letra e musica de Frederico de Brito
Repertório de Tristão da Silva

Olha lá, não faças troça 
Por eu ter modos grosseiros
Se a vida é uma carroça
Temos que ser carroceiros

Se há na vida um mau encarte
Embora a gente não queira
É um travão que se parte 
Ao princípio da ladeira

Qualquer desgosto 
Incomoda às vezes mais
Do que um arreio mal posto 
Que anda a fugir dos varais
Não faças troça 
Por eu ser desta maneira
Tem dó  da minha carroça 
E dá-lhe uma dianteira

Um homem apaixonado 
Tem cegueiras, tem repentes
É um cavalo espantado 
Que leva o freio nos dentes

Se a traição nos faz sofrer
É porque não é mais nada
Que uma grande chicotada 
Que a gente leva sem querer
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Versão publicada no jornal Guitarra de Portugal, n.º 22 (2.ª Série) 
de 1 de Maio de 1945. 
Substancialmente diferente da versão cantada e gravada por 
Tristão da Silva.

Eu sei que tu fazes troça
De eu ter um modo grosseiro
A vida é uma carroça
E eu fui sempre o carroceiro!

Por mais que a gente não queira 
A má sorte ou mau encarte
É um travão que se parte 
Ao princípio da ladeira

Na vida, qualquer desgosto 
Não nos incomoda mais
É um arreio mal posto 
Que anda a sair dos varais

Quando o amor nos desperta 
Logo a si nos traz sujeitos
É coelheira que aperta 
E nos faz chagas nos peitos

Um homem apaixonado 
Tem cegueiras, tem repentes
É um cavalo tocado 
Que leva o freio nos dentes

Se a traição nos faz sofrer 
É porque não é mais nada
Que uma grande chicotada 
Que a gente leva sem querer

Por isso, não faças troça 
Da minha forma grosseira
Tem dó da minha carroça 
E dá-me uma dianteira

Paixão fatal

Maria de Lurdes Brás / Frederico de Brito *fado britinho*
Repertório: Afonso de Oliveira

Foi na rua da Atalaia
Que encontrei um certo Faia
Muito bem acompanhado
Que pelo braço trazia
Uma Princesa vadia
Vulgar amante do fado

Cheio de curiosidade
Quis conhecer a beldade 
Por muitos diz ser amada
Procurei de noite e dia
Toda a gente me dizia 
Procura-a de madrugada

Passei noites sem dormir
E comecei-me a sentir 
Totalmente embriagado
E cheguei à conclusão
Que era grande a paixão 
Por essa amante do fado

Numa noite foi fatal
Entrei na tasca real 
Onde o fado se desgarra
Quase que enlouqueci
Pois na minha frente vi 
Minha paixão, a guitarra

A guitarra o fado e eu

Maria de Lurdes Brás / José António Sabrosa
Repertório de Maria de Lurdes Brás

Se eu pudesse contar
Num poema, o meu passado   
Com a guitarra a trinar
Minha vida, dava um fado

Horas, minutos contados 
No relógio sem parar
Meus sentimentos guardados 
Se eu pudesse contar

Se nas estrelas eu lesse 
O meu destino traçado
Talvez um dia escrevesse 
Num poema, o meu passado

Guitarra minha paixão 
Com que aprendi a rezar
Fiz do fado uma oração 
Com a guitarra a trinar

Retalhos da minha vida 
Num coração magoado
D’amor e raiva dividida 
Minha vida dava um fado

Corpo em viagem

Mário Rainho / Filipe Pinto Jnr
Repertório de Vasco Rafael

De velas soltas ao vento 
Anda meu corpo em viagem
E no cais do pensamento
O amor, tu e o tempo 
Esperam uma breve paragem

Navego no mar da esperança 
Vou ao leme da aventura
E nem a alma se cansa
Rumo aos sonhos de criança 
É esta a minha loucura

Chegar, partir, voltar ao mar
Fugir ao rio
Amor, meu corpo è um navio


No convés levo luar 
Na proa o sol da verdade
Lancho alegre a cantar
Não temo a fúria do mar 
Apenas temo a saudade

Sou marinheiro do mundo 
Não tenho tempo a perder
No mar sinto-me jucundo
Sou marinheiro do mundo 
Não há mais nada a fazer

Grão de areia

António Rocha / Miguel Ramos *fado margarida*
Repertório de Tristão da Silva

Tal como grãos de areia que fugiam
Por entre as minhas mãos escassas d'esperança
Assim foram os sonhos que existiam
Nos restos dos meus sonhos de criança

Tal como a ira ou a mansidão do vento
Afaga ou pôe em fúria a voz do mar
Também este meu triste pensamento
Recorda o que năo  queria recordar

Se a vida fosse um mar de brancas rosas
Como os meus velhos sonhos foram já
Näo haveria estradas sinuosas
Onde procuro aquilo que não há

Assim, numa alegria que è fingida
Eu sou, nesta procura do meu ser
Grão de areia que foge às mãos da vida
E cai nas mãos da morte p'ra viver

Sabes bem quanto te quero

António Silva Reis / Pedro Rodrigues
Repertório de Tony Reis

Sabes bem quanto te quero
E por isso não tolero
Ouvir de ti dizer mal
Se a vida é de nós dois
Que lhes importa depois
Falar assim afinal

A vida tem coisas boas
Porque será que as pessoas 
Teimam em se intrometer
No que não lhes diz respeito
E dizem coisas sem jeito 
Mas que nos fazem sofrer

Podem falar à vontade
Porque p’ra nós a verdade
É cristalina como a água
Digam lá o que disserem 
Façam lá o que fizerem 
A nós não nos causam mágoa

A nós não nos causam mágoa
Acredita meu amor
Vou dizer seja a quem for
Que és a minha paixão
Quando Deus quiser um dia 
Por te dar meu coração

Ai a saudade

Manuel Paião / Eduardo Damas
Repertório de Pedro Vilar

A saudade vive em nós 
E mora no coração
E tem, sentada a seu lado 
A velha recordação

A saudade no presente 
O passado nos partilha
Se tem por mãe a tristeza
A doçura, a doçura tem por filha

Ai ai saudade, saudade, saudade
Do tempo que já passou
Ai ai saudade, saudade, saudade
Entre nós ela ficou
Ai ai saudade, saudade, saudade
Dessa nossa mocidade
Do tempo que a levou
Ai ai saudade, saudade, saudade
Saudade

A saudade, disse alguém;
É vida aonde há dor
A saudade, digo eu:
Só existe onde há amor

E se estamos junto dela 
Somos só recordação
Porque temos cá no peito 
A bater, só o bater dum coração

Coração vamos contar

António Bompastor / Carlos Neves *fado tamanquinhas*
Repertório de Deolinda Maria

Coração vamos contar
As nossas desilusões
Vamos aqui desfiar
Um rosário de paixões
Que vivemos par a par

Lembras o primeiro amor 
Vá lá, não digas que não
Foi de todos, o pior
Mas foi teu rei e senhor 
Lembras-te meu coração

Mais tarde outros amores vieram 
Morar na tua afeição
Mas não te compreenderam
E tu ao saberes quem eram 
Sofreste, meu coração

Agora com desventura 
Ao amor dizes que não
Embora seja loucura
O amor anda à procura 
De quem não tem coração

Ouve este fado

António Vilar da costa / Teófilo Frazão
Repertório de Tristão da Silva

Ouve este fado 
Esta dolente canção
Doce expressão 
Dum coração torturado

Queixume de amor 
Sinfonia de lamentos
Que são desalentos 
D'almas imersas na dor

Ouve este fado
Que é para ti, meu amor
E traduz todo o fervor
Da minh'alma apaixonada
Ouve este fado
Que em seus divinos harpejos
Lembra a música dos beijos
Que trocamos, minha amada


Quero que sintas 
Toda a saudade fermente
Do fogo ardente 
Das nossas bocas famintas

E ao meigo trinado  
Da guitarra a soluçar
Dá-me um beijo e sem falar
Vamos falar do passado

Amo a vida

Maria de Lurdes Brás / Fontes Rocha *fado isabel*
Repertório de Maria de Lurdes Brás

És o meu raio de sol
Ao romper da alvorada
Se dormes no meu lençol
És estrela da madrugada

És o sonho que se deita 
À noite na minha cama
De manhã quando o sol espreita 
És o dia que me chama

Deslumbra-me o horizonte 
O pôr-do-sol à tardinha
Amo o luar sobre o monte 
Quando a noite se avizinha

Amo Deus e a natureza 
O nascer da primavera
Para alegrar a tristeza 
O raiar d’uma quimera

O meu encanto persiste 
Até na noite perdida
Amo tudo quanto existe 
Porque amo a própria vida

Deste-me um beijo e vivi

João Dias / Frederico de Brito *fado britinho*
Repertório de Vicente da Câmara

Deste-me um beijo e vivi
Na força que veio de ti
Encontrei a fé perdida
Negando o barro e o mito
O meu corpo se fez grito
Vida pedindo mais vida

Acontecemos um só
Sob a luz do mesmo sol 
Cores do mesmo matiz
Razões duma só razão
Pedaços do mesmo chão 
Troncos da mesma raiz

Traz-me alturas de montanha
Braveza de mar sem manha 
Largueza de céu imenso
Dá-me ternuras de linho 
Na luz e no rosmaninho 
Teremos valor de incenso

E o meu corpo feito grito
Teve a força de granito 
A força que vem de ti
Encontro de fé perdida
Pedi à vida mais vida 
Deste-me um beijo e vivi

Dona da minha vontade

Letra e musica de Paco Gonzalez
Repertório de Glória Maria

Sou noite, sou tristeza que invade
O pouco que não vejo
E já vislumbra a saudade
Sou noite, céu agreste, não me vendo
Sou o próprio pensamento
Com algemas de ansiedade

Sou noite, grito sem eco e sem vida
Sou uma folha caída
Desprezada pelo chão
Sou noite, resto de mil madrugadas
Lembrando as horas passadas
Nos braços duma paixão

Sou noite, luta de versos perdidos
Sou a razão dos sentidos
Que não param de latir
Sou noite, tenho amor à claridade
Quero o campo da verdade
Onde me deixem dormir

Sou noite, quero o negrume do mar
Na distância do cantar
E na esperança do além
Sou noite, lençol de cama esquecida
Sem teu nome tenho vida
Sou tudo e não sou ninguém

Desejo alguém

Irmãos Orlando / Fausto Guimarães
Repertório de Tristão da Silva

Desejo alguém 
Que não sinta cansaços
De apertar-me sempre
Sempre, em seus braços

Desejo alguém 
Que também goste de mim
P'ra seguir bem juntinhos
Os mesmos caminhos até ao fim

Desejo alguém
De olhar sedutor
P'ra construir
Nosso ninho de amor
Alguém que não jure
Por prazer de jurar
Com esse alguém
È que eu vivo a sonhar

Casa dos Bicos

Francisco Branco Rodrigues / Popular *fado corrido*
Repertório de Vicente da Câmara

Da famosa Mariquinhas
Em fado alegre e pimpão
Cantou-se e fez tradição
Sua casa e tabuinhas

Mas esqueceram-se as alminhas 
Que quase a chegar a Alfama
Outra casa a atenção chama 
Porque é toda de pedrinhas

Sem palavras vãs e tolas 
Nem quaisquer apaparicos
Eu canto a Casa dos Bicos 
Lá no Campo das Cebolas

Ali não se canta o fado; 
Nem qualquer mulher mesquinha
Àquela casa alfacinha 
Tem o seu nome ligado

É velhinha e faz lembrar 
A marinhagem de então
Pois cada bico é padrão 
Dos nossos feitos no mar

Casa de pedras velhinhas 
Toda de bicos talhada
Tens direito a ser cantada 
Mesmo sem teres tabuinhas

Meu fado maior

Maria de Lurdes Brás / Jaime Santos *fado jaime*
Repertório de Maria de Lurdes Brás

Nesta vida em que me enleio
Tenho receio, de te perder
És tu quem eu procurava
E me faltava, no meu viver
Numa constante procura
Só amargura, tenho encontrado
Grande amor da minha vida
Ando perdida, por ti meu fado

És marialva que importa
Na minha porta, tens sempre entrada
Também és fado vadio
Mas tens mais brio, na desgarrada
És o meu fado maior
E no menor, não há defeito
No corrido tens mais garra
Quando a guitarra, trina a preceito

És minha eterna esperança
E sou criança, voltei a nascer
Só p’ra ti eu vivo agora
Sou nesta hora, outra mulher
Se Deus a sorte destina
É minha sina, cumpro o meu fado
Agora, sei o que quero
Viver, espero, sempre a teu lado 

Convite ao amor

Edman Ayres de Abreu
Repertório de Tristão da Silva

Veja como o mar
Se desfaz no ar em branca espuma
Como a densa bruma
Cede ao sol brilhante e logo cessa
Tudo é tão fugaz
E passa tão depressa
Uma triste lembrança
Que o coração cansa

Vem, oh meu amor, traz o teu calor
Desperta, vamos viver
Quero-te mostrar como è bom amar
E grande encanto ter 


A vida corre louca
Roubando bons momentos
Esqueça os lamentos
Vem amor, vamos viver

Eu sou assim por acaso

Maria de Lurdes Brás / Popular *fado menor*
Repertório de Maria de Lurdes Brás

Sou o silêncio da noite
Sou a lua adormecida
Qual madrugada se acoite
Ao amanhecer p’ra vida

Sou a vida na varanda 
Debruçada para o mundo
Sonho ver em hora branda 
Renascer, amor profundo

Sou como a roseira brava 
A que ninguém dá valor
Ao calor do sol secava 
E por milagre deu flor

Sou a estrada sem ter fim 
Mudar de rumo, não vou
Se acaso nasci assim 
Vou viver, tal como sou

Cartas

Manuel Casimiro / Miguel Ramos *fado alberto*
Repertório de Celeste Rodrigues

As cartas que me mandas devolver-te
Agora que acabou o nosso amor
Perdoa, mas eu tenho que dizer-te
Que todas já rasguei, sei-as de cor

Ditava-as uma a uma ao teu ouvido
Co'a mesma vibração com que as li
E a pena de te ver, p'ra mim perdido
É igual ao meu sentir, quando te vi

Pedes-me o teu retrato e eu não tenho
Não te posso mandar também agora
Pois o amor que te tive foi tamanho
Que o devorei com beijos, hora a hora

As flores que me ofertaste, emurcheceram
Perdendo a pouco a pouco, viço e cor
Mas aqui tens, devolvo o que elas eram
O espelho mais fiel do teu amor

Fadistice

Letra e musica de Vicente da Câmara
Repertório de Vicente da Câmara

No quartel das velhas farras
Toquei o Fado Corrido
E logo as outras guitarras
Vieram pôr-se em sentido

Rebentou
o Mouraria 
Numa enorme desgarrada
O Dois Tons também se ouvia 
Já meia noite-passada

E num brilhante improviso 
Uma guitarra trinava
Foi estilando e sem aviso 
Despontou a madrugada

A manhãzinha chegou 
Eis que o Menor acontece
Foi o mestre que o cantou 
Como se fosse uma prece

Ficam notas a vibrar 
Como vibra a oração
Que tudo ao céu cai chegar 
Se partiu do coração

Qualquer rua de Lisboa

Mário Rainho / Carlos Dionísio
Repertório de Ana Sofia Gonçalves

Pássaro que não voou
Um barco sem navegar
A máscara do que não sou
A estrela sem cintilar

Tudo no mesmo lugar
Sob o olhar de branca lua
Faz-me à noite procurar
Teu amor por qualquer rua

Qualquer rua de Lisboa 
Onde a terra e o universo
Se entendem e desentendem 
Nas brancas rimas dum verso
Qualquer rua de Lisboa
Mesmo até à beira rio
Que secou de tanto frio 
Mas volta a ter água boa
Das mágoas derramadas
Do olhar, escorrendo toa
Pelos becos e calçadas
Qualquer rua de Lisboa

Madrugada que se queima
No lume dos meus cansaços
E este coração que teima
Em arrastar os meus passos

Na cidade dos amores
Em noites de fria lua
Há desencontros e dores
Meu amor, em qualquer rua

Eu trago risos na boca

Heroína Pina / Alfredo Duarte *fado bailado*
Repertório de Deolinda Maria

Eu trago risos na boca
A disfarçar meu desgosto
E a gargalhar como louca
Eu trago risos na boca
A mascararem-me o rosto

E em cada riso que sai 
Dos gemidos disfarçados
Há um soluço que vai
Juntar-se ao riso que sai 
Nos meus lábios mascarados

E quem me vê rir assim 
Não pode compreender
Que há pranto dentro de mim
E que eu ando a rir assim 
P'ra disfarçar meu sofrer

A casa de Sto António

José Galhardo / João Nobre
Repertório de Tristão da Silva

Num largo acima de Alfama
Velas em chama gritam em bando
Entrem
aqui porque è fama
Que aqui nasceu D.Fernando

Na casa mostra-se o quarto
Onde, já farto de tentações
Partiu Fernando a trocar por Deus
O seu lar, o seu nome e os brasões

Ó casa de Santo António
Feita de esmolas, só por fiéis
Igreja que ès património
De quem te deu cinco reis
Os pobres filhos dos pobres
Deram-te uns cobres juntos com fé
Esmolinha pró Santo António
São o demónio, os gaiatos da Sé


O humilde, o rude, o campónio
Vêm António muito diferente
Ao som da banza e do harmónio
O santo arrancha co'a gente

Arrasta pobres e ricos
Aos bailaricos e aos arraiais
Nas fontes faz maravilhas
Quebra nas bilhas e junta os casais

Versos d’um novo fado

António Silva Reis / Frederico de Brito *fado dos sonhos*
Repertório de Tony Reis

Sou nuvem em céu azul
Que voa de norte e sul
E paira ao sabor do vento
Sou estrada percorrida
Sou luz e fonte de vida
Contigo no pensamento

Sou praia em lugar distante
Onde o mar a cada instante 
Beija a areia enternecido
Sou barco de descobertas
Cor alegrias e festas 
Sonhando viver contigo

Sou tudo e quero ser
Eu sou força de viver 
Sou novidade e recado
Espaço no infinito
Eu sou vontade e sou grito 
E versos d’um novo fado

Jóia adorada

Maria de Lurdes Brás / Joaquim Campos *fado amora*
Repertório de Maria de Lurdes Brás

Tenho uma jóia sagrada
Dada p’la graça de Deus
É uma jóia adorada
Valiosa aos olhos meus

È a riqueza maior 
Que Deus me podia dar
Essa jóia de valor 
Que um dia entrou no meu lar

É uma jóia apreciada 
Sem estar em exposição
Jóia que trago guardada 
No cofre do coração

Gosto da sua beleza 
Olhar doce rosto rosado
É uma jóia è uma riqueza 
O meu filhinho adorado