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As letras publicadas referem a fonte de extração, ou seja: nem sempre são mencionados os legítimos criadores dos temas aqui apresentados.
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* 7.140 LETRAS <> 3.082.000 VISITAS * FEVEREIRO 2024

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Rumo a outro dia

Ana Lúcia / Fernando Freitas *fado pena*
Repertório de Sandra Correia

Dou um passo rumo a outro dia
Acompanho a vida lado a lado
Do vento, sou a brisa que alumia
O amor que tecemos no pecado

Guardo em mim a imagem da promessa
De sermos chuva fresca no jardim
E a vida que por si è tão avessa
Caminha duramente dentro em mim

Meu corpo gela sempre que te penso
A boca reclama o teu desejo
Este mar em mim, de tão imenso
Mata-me em vida se te não vejo

Sigo rumo à certeza d’outro dia
Da vida, só o peso da saudade
È já noite e è a lua que irradia
A força de me seres toda a verdade

Guitarra chora comigo

Carlos Neto / Franklim Godinho *fado franklim*
Repertório de Carlos Neto

Guitarra, chora comigo
A razão do nosso amor
Deu-nos Deus este castigo
Bendito seja o Senhor

Toda feita de madeira 
Em forma de coração
O chorares a vida inteira 
Vai ser esse o teu condão

Doze cordas paralelas 
Que trinam quando canto
Doze luas, doze estrelas 
A dar luz ao teu encanto

Ter o fado por castigo 
Foi condão que Deus nos deu
Guitarra, chora comigo 
È esse o destino teu

Menina dos olhos meus 
È o fado a nossa amarra
È condão que Deus nos deu 
Agora chora guitarra

Quadras de amor

Florbela Espanca / Joaquim Campos *fado amora*
Repertório de Sandra Correia

O fado não é da terra
O fado criou-o Deus
Meu fado é andar doidinha
Perdida p’los olhos teus

Dizem-me que te não queria 
Que tens nos olhos, traição
Ai, ensinem-me a maneira 
De dar leis ao coração

Logo minh’alma descansa 
Por saber que nunca alguém
Pode imaginar o fogo 
Que o teu frio olhar tem

Há em tudo quanto fitas 
Beleza igual à dos céus
Até são belos meus olhos 
Quando lá poisam os teus

Bebedeiras de amor

Carlos Neto / Francisco Viana *fado vianinha*
Repertório de Carlos Neto

Nesse mar do teu amor
Naveguei embriagado
P’la corrente do teu corpo
Desse teu mar inventado

Nas canoas dos teus olhos 
Adormeci ao relento
Em ondas feitas aos molhos 
Desse teu mar que eu invento

Os teus lábios são marés 
Que me leva ao Bojador
Teus olhos têm o verde 
Desse imenso mar d’amor

Quero esse mar p’ra beber 
P’ra embriagar minha dor
Para que eu possa morrer 
Em bebedeiras d’amor

O fado nasceu na rua

José Guimarães / Manuel Reis
Repertório de Sandra Correia

Como um condão fatalista
Naquele velho fadista 
A saudade continua
Diz que no fado nasceu
E que a escola onde aprendeu 
Foi na rua

É boémio, é fado rasca
Vai aos retiros e à tasca 
P’ra cumprir a sina sua
Mas depois de vadiar
Volta sempre ao seu lugar 
Que é na rua

Um candeeiro apagado
Uma guitarra, um trinado
E o fado a noite acendeu
Uma voz num tom magoado
Canta a dizer que este fado
Foi na rua que nasceu

Fado, canção da cidade
Meu rosário de saudade 
És verdade nua e crua
Fado triste das vielas
Que se canta nas janelas 
Para a rua

Naquela mulher de esquina
No pregão de uma varina 
Fado é voz que flutua
Cantiga de ser bairrista
E o fadista è mais fadista 
Se é da rua

Camané

Tributo de: José Fernandes Castro

Caminho pé ante pé
Ao sabor desta doutrina 
Moldada pelo destino
A razão da minha fé
Nasceu na hora divina 
Em que me fiz peregrino

Cada nota do meu canto
Anda envolvida d’espanto
Mesmo que faça doer
Ao compasso da ternura
Não digo não à doçura
Em que me deixo envolver

Converti os meus sentidos
Ao conhecer os poemas 
Musicados ao luar
Agora os sonhos proibidos
Nascem na cor destes temas 
Em que me vejo, ao cantar
                                                      
Confesso que a minha dor
Anda perdida d’amor 
Muito mais do que devia
Ai fado do meu encanto
Nasci ao som do teu pranto 
E ao som da poesia

Vem daí Lisboa

S.Albuquerque / Tristão da Silva
Repertório de Tristão da Silva 

Ó Lisboa minha amiga 
Sai de casa e vem prá rua
Vem ouvir esta cantiga 
Nesta marcha que é só tua

Hoje não vais ao mercado 
Mostra o teu ar inocente
Põe o avental bordado 
Deixa o postigo encostado
E vem na marcha co'a gente

Aqui vai a Madragoa
Com o seu ar de rainha
É o bairro com mais proa
Desta Lisboa alfacinha
Reparem bem no Castelo
Não tem outro bairro igual
Castelo padrão singelo
Do meu país nobre e belo
Que se chama Portugal

O Bairro Alto já disse 
Que esta marcha é toda sua
E que seria tolice 
Não vir na marcha da rua

Deu sinal a São Vicente 
Piscou o olho p’ra Alfama
Que ficou toda contente 
De vir na marcha co’a gente
Pois não vai ficar na cama

Amar alguém

António Reis / Popular *fado menor*
Repertório de Tony Reis

Só canta a fado quem soube
Nesta vida amar alguém
Ou então, p'ra quem não houve
Sequer, um beijo de mãe

Cantar o fado é condão 
De quem tem penas na vida
É dar voz, è dar razão 
A uma esperança perdida

Eu canto toda a amargura 
Dum coração magoado
Partiu com ela a ternura 
Por isso canto o meu fado

Que Deus me ajude a pôr fim 
E a suportar minha dor
Que até já nem sei de mim 
Nem sei de ti, meu amor

Há saudades toda a vida

Maria de Jesus Facco Viana / Armando Machado *fado santa luzia*
Repertório de Vicente da Camara

Passam por baixos dos arcos
Adeus traineiras e barcos
Dos mais distantes países
Há saudares à partida
Há saudades toda a vida
Para quem deixou raízes

Trovadores e marinheiros
Mercadores e cavaleiros 
Partiram daqui, um dia
Passado que nos responde
Queixa que no rio s'esconde 
Como eco da Mouraria

Pilares da ponte do Tejo
Lisboa eterna que vejo 
Povoada de mil vidas
Vive os dias hora a hora
Que a vida nunca demora 
Demoram as despedidas

Terra de Além Tejo

Dinis Muacho / João Chora
Repertório de Dora Maria

Trago uma terra a viver
Toda dentro dos meus braços
Seara a perder de vista
Horizonte sem cansaços

Terra que se estende além-rio 
Beija o mar e as serranias
Tem na alma o quente estio 
O sangue mouro, as litanias

Que fado traz esta gente 
A branquejar os olhos santos
Um casario de povo crente 
A desafiar os quebrantos

A cantar a dura sorte 
Com a fome de ser Tejo
Povo ao sul do vento norte 
Eis sem fim o Alentejo

Peregrino do amor

António Vilar da Costa / Jorge Fontes
Repertório de Tristão da Silva

Sou peregrino
Triste destino dum pecador
Que renegou e atraiçoou o teu amor
De noite e dia
Na solidão dos maus caminhos
Quanto daria 
P'ra voltar aos teus carinhos
Hoje os teus passos 
Seguirei, por meu fadário
Sim amor, porque os teus braços
São a cruz do meu calvário

Sou peregrino, caminho em vão
Vou
sem destino
Atrás da voz do coração
Quero encontrar num beijo teu
A luz sem par
Dum grande amor que já foi meu


Queira ou não queira
Não há maneira de te encontrar
Não me pertenço
Vivo suspenso no teu olhar
O meu amor jamais se vê do teu, liberto
Seja onde for, dentro em mim 
Estás sempre perto
Para te amar
Com fervor, com devoção
Terás sempre um lindo altar
Dentro do meu coração

Siga a dança

João Machado / Carlos Baleia
Repertório de Dora Maria

Se chove num dia e noutro há calor
Se à ventania segue a calmaria 
Com tempo melhor
Se há choro d'alegria e também a dor
Numa sintonia que envolve o amor                        

É porque no mundo existe a mudança 
Que melhor se alcança se na simples prece 
Pusermos a esperança
E como no fundo isto se conhece
Muita gente esquece 
Que é naquela esperança que tudo acontece                 

Logo em pequenino      
Com choro ao nascer se enfrenta o destino
Não dá p’ra saber
Se irá velho ser quem hoje é menino
Há horas sombrias
Instantes de humor, mágoas, alegrias
E ainda o amor
Que enche de sabor tantas fantasias    

Se nada é eterno na vida da gente
Seria um inferno se o agreste inverno 
Fosse permanente
Se até o moderno passa velozmente
E um amor terno morre de repente

É porque este mundo 'stá sempre em mudança 
Que melhor se alcança se na simples prece 
Pusermos a esperança
E como no fundo isto se conhece
Muita gente esquece 
Mas é nessa esperança que tudo acontece 

À porta da Brasileira

Domingos Lobo / Mário Pacheco
Repertório de Cristiana Águas

Encontrei-te por acaso
No Chiado ontem à tarde
E reparei que ias triste
Afinal o nosso caso
Ainda é sangue que arde
Sombra de amor que resiste

Disseste que me esquecias
Entre dois copos de rum 
Morre um amor, outro amanhece
Mas no olhar exibias
Aquele langor comum 
Que o sol tem quando amanhece

O olhar, espelho da alma
È traiçoeiro e transporta 
As mágoas do coração
E vi nele muda e calma
A palavra que abre a porta 
Aos medos da solidão

Mas o amor tem tantos laços
Dor, ciúme e alegria 
Veredas da vida inteira
E quando te abri os braços
Teu beijo acendeu o dia 
À porta da Brasileira

Estou aqui

Letra e música de Jorge Fernando
Repertório de Dora Maria

Já é noite, a terra dorme
Entre nós mais nada existe
Estão os meus olhos conforme
Esteja a alma alegre ou triste

Já é noite e o pensamento
Ganha asas, voa longe
Quero arrancar-me ao tormento
Da solidão de monge

Saudade eu estou aqui
Não precisas procurar-me mais
Saudade eu estou aqui
Dás aos seres anseios desiguais
Não procures mais, eis-me


Já é noite e eu não sossego
Adivinho-te dormindo
E é a inventar que eu me entrego
Ao sonho que me vem vindo

E a solidão que não finda
Em meu peito se aconchega
Já não sei se é noite ainda
Ou antes o dia chega

Horas de breu

Vasco Graça Moura / Manuel Reis
Repertório de Sandra Correia

No dia de eu me ir embora
Não sei se chora quem me prendeu
Na hora da despedida
A minha vida quase morreu

Agora só corre a água
Da mágoa que amor me deu
E mora no coração
Um vão só de breu

Na rua, de madrugada
Esta balada, triste gemeu
E a lua quando tentava
Ver quem cantava, viu que era eu

Xerazade

Letra e musica de Custódio Castelo
Repertório de Dora Maria

Mas num fado vai e vem
Uma história ou mais de cem
Histórias a um amor ausente
São as lágrimas de alguém
Cujo o amor, um amor já tem
E nele vive tristemente

Velou-me à condição de dar por mim
A espera tão longa d’uma alegria
E assim me vou morrendo dia a dia
Na esperança de ser esperança um dia

Trago à memória o que não soube viver
Sigo a corrente deste rio saudade
Na esperança de te poder ter

Saudades de Portugal

Casimiro Silva / Armando Machado
Repertório de Casimiro Silva


Meu Portugal pequenino
Onde o tempo veio parar
Eu tinha tanta saudade 
De quem deixei cá ficar

Portugal é sol, é verde
E o meu berço é sempre meu
Do Algarve a Trás-os-Montes 
O mais português sou eu

Balança balança barquinho no mar
Balança balança barquinho a chegar
Balança balança nas ondas do mar
Que eu não perco a esperança
De à praia voltar

Canto numa terra estranha 
Esta canção imortal
E è da fronteira d'Espanha 
Que eu vejo o meu Portugal

Canto o fado com amor 
Mas não me sinto feliz
Porque a saudade é maior 
É maior do que Paris

Falta um sentimento

Tiago Torres da Silva / Pedro Pinhal
Repertório de Dora Maria

Falta um sentimento
Não é medo, nem pavor, nem saudade
Não é dor, nem prazer
Mem o peito a bater
Nem prisão, nem luar, nem liberdade

Falta um sentimento
Que não fala do presente ou passado
Não vos digo o seu nome
Porque ele abandonou-me
Por ciúme ou inveja do fado

Falta um sentimento
Que eu não sei se senti ou se o evitei
E ao saber que há gente 
Que diz que o não o sente
Ele instala-se, ri-se e faz lei

Falta um sentimento
Que me quer quanto me tem deixado
E por ser antigo só quer estar comigo
Se eu estou pronta pra cantar o fado

Canto imaginário

Tiago Torres da Silva / José Cid
Repertório de Dora Maria

No meu quarto de cidade 
Não há luzes nem barulho
Há apenas a saudade 
Envolta em papel de embrulho

Há o canto imaginário 
Das aves da minha infância
Existe um mundo ao contrário 
Onde só vejo a distância

Fecho-me à chave
Corro descalça
Sou uma ave
Danço uma valsa
Sapos e grilos
Vão-me lembrando
Dias tranquilos
Sem onde ou quando

Da janela do meu quarto 
Só se pode ver a rua
E eu é que nunca me farto 
De esperar que venha a lua

E se sei que está oculta 
Por detrás de um prédio vizinho
E o meu coração que  exulta 
Por ir-lhe  abrindo um caminho

Tudo me dói

Júlia Silva / Alvaro Duarte Simões *meia noite e uma guitarra*
Repertório de Júlia Silva

Do amor ando perdida
Já nem tenho coração
E nem sei da minha vida
Perdida na solidão;
Ai dói-me ser esquecida
Doí-me esta minha ilusão

Num sonho por mim vivido 
Que a vida me fez sonhar
Ficou meu sonho escondido 
No fundo do meu olhar;
Doí-me este sonho perdido 
Doí-me não poder amar

Sonhando vou de fugida 
O teu peito atravessar
Levo uma guitarra amiga 
Para os teus sonhos cantar;
Ai doí-me esta voz sofrida 
Dói-me a guitarra a chorar

E se o amor encontrar 
Ganharei um coração
Tenho uma vida p’ra dar 
Desconheço a solidão;
Um amor já posso dar 
Encontrei um coração

Quem és tu

Letra e musica de Leonardo Azevedo
Repertório de Casimiro Silva

Quem és tu
Musa da minha canção
Que roubou meu coração
E partiu sem mais voltar
Quem és tu
Traz de volta o que è meu
Não deixaste nada teu
Partiste sem nada dar

Quem és tu
A lembrança do passado
Num diário mal traçado
Que o tempo apagou
Quem és tu
És tempestade ou bonança
És desespero ou esperança
Quem és tu
E eu quem sou

Folhas caídas

Silva Tavares / António Melo
Repertório de Tristão da Silva

Com sua velha mania 
De eterna renovação
Esta noite, a ventania
Cobriu de folhas o chão

Pisei várias de seguida
E ao passar na tua rua
Lembrei-me da nossa vida
De quando a minha foi tua

Também tu foste arrastada 
P'lo turbilhão
E tão fresca e delicada 
Que para não seres pisada 
Eu apanhei-te do chão
Mas tu eras mulher
Não eras qualquer 
Folha vulgar de Lineu
E quanto mal me fizeste 
Com o pago que me déste
Sabe-o Deus e sei-o eu

Se vejo as árvores nuas 
Logo entristeço e depois
Fujo de andar pelas ruas 
Por onde andamos os dois

Recompus a minha vida 
Mas confesso com desgosto
Que ante um folha caída 
Sinto a cor subir-me ao rosto

Pescador de olhos azuis

Letra e musica de José Cid
Repertório de Dora Maria

Pescador de olhos azuis 
De um azul  da cor do mar
Queria fugir no teu barco 
P’ra podermos naufragar

Naufragar nalgum rochedo 
Tal tábua de salvação
Ou então morrer na praia 
P’ra espanto da multidão

Ai pescador de olhos azuis
Ai pescador de olhos azuis

As forças vão-me faltando 
Já não consigo nadar
Com os teus braços tão fortes 
Pescador vem me salvar

A praia fica distante 
Já vejo o fundo do mar
Dizem que morrer assim 
É como ressuscitar

Sonhos

Júlia Silva / Popular *fado menor*
Repertório de Júlia Silva

A minha alma atrevida
Os meus sonhos libertou
Fugiram da minha vida
E do espaço que eu sou

Sinto o meu corpo cansado 
Sinto-me só e vencida
Os sonhos são do passado 
Tenho minha alma despida

Sofro com isso, que importa 
Se acordo à noite a chorar
Porque em vida já estou morta 
Sem sonhos para sonhar

Será que agora eles moram 
Algures num outro mundo
Dentro duma outra alma 
Com um amor mais profundo

Se um dia eles voltarem 
P’ra me dizer a verdade
Mesmo se eles não ficarem 
Dá p’ra matar a saudade

Sei que a perdi

Tristão da Silva / A. Rodrigues / I. Miranda
Repertório de Tristão da Silva

Lamento não ter sofrido
Cada momento vivido
Ao pé daquela mulher
Fugindo à realidade
Sem termos nossa verdade
Nem a mentira, sequer

Sei que a perdi... 
Perdido também fiquei
Deste saber que não sei
De dores que nunca senti
Sei que a perdi... 
Sem nunca tê-la querido
Com pena de haver sofrido
O mal que nunca sofri


Momentos de minha história
Sem lembrança, sem memória
Do que fomos, eu e ela
A mim só resta a certeza
Desta tremenda tristeza
De não mais lembrar-me dela

Quando em Lisboa

Rui Manuel / Martinho d'Assunção
Repertório de Casimiro Silva

Quando em Lisboa amadurecem as guitarras
E a madrugada se entreolha à luz de velas
A solidão é uma sombra que devora
As outras sombras que percorrem as vielas;
Quando em Lisboa amadurecem as guitarras
O fado parte como o Tejo, barra fora

Quando em Lisboa anoitece
O Bairro Alto parece
Chamar Alfama num convite à desgarrada
Se a Mouraria o aceita
A Madragoa aproveita
Lisboa já não vai dormir, fica acordada

Quando em Lisboa o silêncio é um poema
E descobrimos que as palavras somos nós
Só nos amantes pode haver intimidade
Igual ao som duma guitarra e uma voz;
Quando em Lisboa o silêncio é um poema
O fado diz que tomou conta da cidade

Grito de oxalá

Maria Luísa Baptista / José Bacalhau
Repertório de Dora Maria

Na manhã em que partiste
O teu olhar era triste
Tinhas no rosto saudade
Foste barco ao deus dará
Foste grito de oxalá
Perdido na tempestade

Fiquei pregada no cais
O vento calou meus ais 
Fui vela que se rasgou
E o bem-me-quer que me deste
Era um malmequer silvestre 
Que ao ver-me chorar, murchou

O longo rasto de espuma
Misturou-se com a bruma 
Perdeu-se no horizonte
Dilui-se a tua imagem
Depois foste só miragem 
Dum passado tão distante

Hoje eu só peço a Deus
Que perdoe os erros meus 
E entenda a minha prece
Que te traga para o meu lado
Se for esse o nosso fado 
Porque o nosso amor merece

Fado dos fados

F.Abranches / Casimiro Ramos
Repertório de Tristão da Silva

Ao som dum fado 
Alguém viu o meu destino
Quando eu era pequenino
Mas nada me quis contar
Ao som dum fado
Comecei logo a vivê-lo
De nada serviu escondê-lo
Pois não se fez esperar
Ao som dum fado 
Gastei toda a mocidade
Em busca duma amizade 
Que nunca soube encontrar

Fado dos fados
Que ninguém canta por medo
Cada nota é um segredo
Cada acorde uma loucura
Fado dos fados
È todo um corpo a vibrar
E uma boca a procurar
Doutra boca, a amargura


Só a saudade 
Pode encher almas vazias
Mascarar-se de alegrias 
Por tudo o que já è fim
Quanta saudade 
Do que fui e do que sou
Triste fado que embalou 
Quanta saudade de mim
Minha saudade
Minha velha companheira
Não saias da minha beira
Quero-te toda pra mim

Limão verde

Ana Madalena / Faria da Silveira
Repertório de Ana Madalena 

Este meu viver é um limão verde
Ai verde limão d'esperança frustrada
Quando sinto amargo, o meu coração
Procuro fazer uma limonada

Ai verde limão, ai amor amargo
Um pouco de mel dum só beijo teu
Já adoçaria este amargo travo
Deste limão verde que a vida me deu


Amargos de boca, ai... quem os não tem
São piores que a sede do amor negado
Mas é por teus beijos esta sede louca
Que esta minha boca mais tem amargado

Duas paixões

Júlia Silva / Raúl Pinto
Repertório de Júlia Silva

Negando a vida que vivi
Deixei tudo e então parti
Troquei amor por amor
De um deles tenho carinho
Tenho ternura e um ninho
Do outro distância e dor

O que está perto eu adoro
Pelo que está longe, choro 
Gosto dele com paixão
E apesar de distante
Penso nele a todo instante 
Vive no meu coração

Faz parte do meu passado
E mesmo não estando a meu lado 
Ilumina o meu presente
Representa o meu futuro
E é o amor mais puro 
Mesmo estando ausente

Vivo estas duas paixões
Amo estes dois corações 
E espero amor também
O que está longe è saudade
Mas é amor de verdade 
Porque sou a sua mãe

A vida vai

Letra e musica de Janaína Pereira
Repertório de Dora Maria

Pode ser que seja o fim
Ou um novo começo
Talvez seja o estopim
Pois não me reconheço

Quando olho no espelho 
Vejo uma outra pessoa
E por mais que o corte doa
Vai ser bem melhor assim

Se a vida vai a vida vai
Eu vou com ela
Se a vida vai a vida vai
Então me leva

Eu te vejo seduzir
Meu destino está a espera
Não importa o que há de vir
Já não sou mais quem eu era
O amor me encoraja a seguir
E a vontade acelera

Não chore não, temos a vida inteira
Temos muito tempo ainda
Não desespere, não baixe a cabeça
Deixa curar a ferida
Não cutuque escute entenda 
Cuide bem da sua vida, pois