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As letras publicadas referem a fonte de extração, ou seja: nem sempre são mencionados os legítimos criadores dos temas aqui apresentados.
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* 7.260 LETRAS <> 3.120.500 VISITAS * MARÇO 2024 *

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Meu burgo tripeiro

Alice Barreto / Joaquim Campos *fado tango*
Repertório de Nélson Duarte

Ribeira, burgo tripeiro
Meu coração de rainha
Encantaste o estrangeiro
Atraíste o mundo inteiro
Mas não deixes de ser minha

Ribeira, és monumento 
Para mim és o primeiro
Eu vejo em cada janela
Os vitrais duma capela 
Deste meu burgo tripeiro

Ribeira, linda mulher 
Deitada em leito de prata
Eu sei que o Douro te adora
E por vezes por ti chora 
Meu calendário sem data

Ribeira, quanta beleza 
Na tua graça tão bela 
Inspira qualquer pintor
Cada vez terás mais cor 
P’ra dar vida à tua tela

Aquela Maria

Alice Ogando / Frei Hermano da Câmara
Repertório de Frei Hermano da Câmara

Maria da Conceição
Vi-te ontem na procissão 
Mas duvidei do que via
Pois quando p'ra ti olhei
Olhei logo e reparei 
Que toda a gente sorria

Maria da Conceição
Ou tu perdeste a razão 
Ou então foi bruxaria
Um chapéu nessa cabeça
Mas tu queres que eu endoideça 
Oh pobre, pobre Maria

Calça a chinelinha, calça
Põe teu lenço de Alcobaça 
E a saia de flanela
Põe teu xaile de tricana
Pois tu és ribatejana
Pois tu Maria és aquela;
Criada com essa aragem
Que faz a mulher formosa
E em paisagem bravia
Nunca pode ir bem Maria
Esse chapéu, essa rosa

Maria da Conceição
Sai-me já da procissão 
Olha que Nosso Senhor
Sendo embora de madeira
Ao ver-te dessa maneira 
Pode fugir do andor

Volta depois sem vaidade
Prefere a simplicidade 
Numa vida sem mentira
Sem pose e sem presunção
Maria da Conceição 
De Vila Franca de Xira

Foi aqui na minha terra

José Guimarães / Alfredo Correeiro *marcha do correeiro*
Repertório de Nelson Duarte

Vejo as pontes, vejo a serra
E vejo o rio passar
Entre margens de carinho
Foi aqui na minha terra
Que a névoa veio morar
E onde o sol abre caminha

No passado que ela encerra
Tem nobreza e é bairrista 
Gaiata e sempre leal
Foi aqui na minha terra
Que de conquista em conquista 
Houve nome Portugal

Sofreu as penas da guerra
E a cruz de Cristo levou 
Através do mar profundo
Foi aqui da minha terra
Que o Infante navegou 
Deu novos mundos ao mundo

Este Porto onde nasci
Por vaidoso não me tomem 
Mas digo com altivez
Minha terra foi aqui
Que aprendi a ser homem 
E a ser mais português

Amor meu

Marla Amastor / Alfredo Duarte *fado versículo*
Repertório de António Laranjeira

É no canto mais antigo que há em nós
No sussuro mais contido que há na dor
Que me encontro a sós contigo nesta voz
Sem nunca me ter perdido meu amor

Se encontrares mais de mim neste fado
Não me vistas de loucura desmedida
Não me prendas mais assim, meu pecado
Nem te dispas desta jura prometida

Por saber como tu és e como sou
Por saber de onde vim e fui parar
Não te percas nas marés p’ra onde vou
Nem te soltes mais de mim sem me encontrar

Se falar a voz mais alta do que eu
Se as palavras que disser ao teu ouvido
Forem tudo o que nos falta, amor meu
Voltarei para te amar com mais sentido

Um dia no Ribatejo

Manuel de Almeida / Jaime Santos
Repertório de Manuel de Almeida

Fui certa vez ao Ribatejo entusiasmado
P’la mais castiça das festas tradicionais
Que grande dia, que dia tão bem passado
Um desses dias que a gente não esquece mais

Vi curiosos toureando com destreza
Numa largada de toiros ao romper d’alva
E assisti numa corrida à portuguesa
Toda a beleza do toureio marialva

Vi um forcado dando ao toiro meia praça
Batendo as palmas numa coragem das raras
Entusiasmando a multidão e pondo a raça
E a valentia que há numa pega de caras

E numa adega bem castiça a recordar
Outras noitadas com fidalgos e artistas
Cantei o fado rigoroso p’ra mostrar
À gente nova, que ainda haviam fadistas

Dilema

Manuel Carvalho / Alfredo Duarte *fado louco*
Repertório de Nelson Duarte

Ando a tentar esquecer-te
Mas já vi que não consigo
Pois o medo de perder-te
Ainda vive comigo

Eu não quero mais lembrar 
Os teus olhos o teu rosto
Mas volto sempre a sonhar 
Com as coisas que mais gosto

Nunca sais da minha mente 
P'ra viver, de ti preciso
Não posso por mais que tente 
Esquecer o teu sorriso

Tento a boca amordaçar 
P'ra não falar no teu nome
Mas não consigo calar 
A mágoa que me consome

Só Deus sabe este castigo 
Que na vida ando a viver
Esquecer-te não consigo 
Por mais que tente esquecer

Aniversário

José Guimarães / Miguel Ramos *fado alberto*
Repertório de Nelson Duarte

Nem sempre aniversário é felicidade
De uma hora feliz, que já passou
Às vezes muitas vezes é saudade
De um momento que o tempo já levou

É recordar o dia em que nasceram
Os filhos que o amor e Deus nos deu
É recordar momentos que vieram
Fazer da nossa vida um novo céu

É a data feliz do casamento
São as bodas de prata e as bodas de ouro
É lembrar cada ano esse momento
Que guardamos em nós, como um tesouro

É lembrar o marido ou a esposa   
Recordar a alegria e a saudade                             
E em cada aniversário, há uma rosa
Num desejo de amor e felicidade

E ao cantar este fado de alegria
Eu agradeço a Deus estarmos aqui
E em cada ano espero que este dia
Seja a festa da vida que vivi

Uma vez que seja

Ana Vidal / Raul Pereira *fado zé grande*
Repertório de António Zambujo

Tu que navegas ao sabor do vento
Sem outra rota que o que se deseja
Tu que tens por mapa o firmamento
Vem decobrir-me, uma vez que seja

E diz-me das viagens que não faço
Dos mundos cintilantes que antevejo
E traz-me mares de mel no teu abraço
Poeira de ouro velho no teu beijo

De ti não espero amarras nem promessas
É livre que te quero neste cais
Até que um dia em mim não amanheças
E te faças ao mar uma vez mais

E mesmo nessa hora de perder-te
Sabendo que a magia se desfez
Terá valido a pena conhecer-te
E deslumbra-me ao menos uma vez

Meu amor, sou vinho e pão

Manuel Guimarães / José Maria dos Cavalinhos *fado anadia*
Repertório de Nélson Duarte

Sou filho de um campo verde
O trigo que está no chão
Vinho que te mata a sede
Meu amor, sou vinho e pão

Sou farinha na masseira 
O pão, amor e carinho
A raiz de uma videira 
Forno, lagar, pão e vinho

Cubro de parra o meu rosto 
De farinha o coração
Teus lábios cheiram a mosto 
O teu corpo, a vinho e pão

Abraçaste trigo aos molhos 
Num celeiro de paixão
Na vindima dos meus olhos 
Encontraste vinho e pão

No fermento que fizemos 
Cresceu em fermentação
O filho que hoje temos 
Para nós é vinho e pão

Canto para não chorar

1a estrofe de Teresa Tarouca / 2a estrofe de Francisco Stoffel
Restantes estrofes de de Manuel Andrade 
Música de Joaquim Campos *fado puxavante
Repertório de Francisco Stoffel 
Este tema também aparece com o título *Eu vivo só p'ra cantar*
Informação de Francisco Mendes e Daniel Gouveia
Livro *Poetas Populares do Fado-Canção*

Eu canto p'ra não chorar
Chorando canto também
Eu vivo só p'ra cantar
Toda a dor que a vida tem

Como uma prece diferente 
Que aos pés de Deus vá rezar
Cada um canta o que sente 
Eu canto p'ra não chorar

E esta canção tão linda 
Que me ensinou minha mãe
Cada vez que a lembro ainda 
Chorando-a, canto também

Comecei de pequenino 
Neste louco caminhar
Fiz do fado o meu destino 
Eu vivo só p'ra cantar

Na minha voz dolorida 
O fado retrata bem
As incertezas da vida 
Toda a dor que a vida tem

Verão, Alentejo e os homens

Letra e musica de Manuel Conde Fialho
Repertório de António Zambujo

Meu Alentejo
Enquanto isto se processa
O sol ferindo sem pressa
Queima mais a tez bronzeada
O suor rasga a camisa
Homem queimado mais fica
A vida é feita de brasa

No Verão
A brasa dourada e celeste
Esvaiando o sol agreste
Dourando mais as espigas
Ceifeiros, corpos curvados
Ceifando e atando em molhos
A benção loira da vida

O calor caustica os corpos
Os ceifeiros vão ceifando
Sem parar o seu labor
O seu cantar é dolente
É certo que é boa gente
Tem verdade e tem mais cor

P’ra onde quer que me volte

Mário Rainho / Francisco Viana *fado vianinha*
Repertório de António Zambujo

Por muito que me revolte
Seres, somente, uma miragem
Pra onde quer que me volte
Vejo sempre a tua imagem

Imagem que me enlouquece 
Como um louco no deserto
Que do nada me aparece 
E tão distante é tão perto

Vejo-te envolta, em poeira
Ou transparente cristal
E a loucura é mais inteira
O sonho quase real

Por muito que me revolte
Seres, somente, uma miragem
P'ra onde quer que me volte
Vejo sempre a tua imagem

Mais fado para sonhar

Torre da Guia / Georgino de Sousa *fado georgino*
Repertório de Nélson Duarte

Sonhei em frente, sonhei
E sei lá quanto passei
Pr'alcançar a realidade
Sonhei e desde menino
Entre as curvas do destino
Firmei a minha vontade

Cantei à minha cidade
Fui feliz, tive vaidade 
Em ser arauto e cantor
Até que mudei um dia
Prá nostálgica melodia 
Que à vida alivia a dor

Todo me dei em pendor
Ao sentimento em flor 
Que do peito sobe à voz
O fado reza bendita
Onde em magia levita 
O sonho de todos nós

Sonhei e do sonho após
O tempo passou veloz 
Mas logrei enfim chegar
À trilha do meu almejo
E agora apenas desejo 
Mais fado para sonhar

Sou a noite, sou o fado

Manuel Guimarães / João Maria dos Anjos
Repertório de Nelson Duarte

Sou a noite na cidade
Sem sol nem claridade 
Mas aqueço o coração
Sou o fumo do cigarro
Quando a guitarra agarro
Canto o fado com paixão

Sou um fado de raiz
A cantar estou feliz 
Trago poemas na voz
Tradição e fado novo
Eu quero ser voz de um povo 
De um povo que somos nós

Sou o copo de sangria
A lanterna que alumia 
A noite, a madrugada
Semeio para colher
E ver um filho nascer 
Na minha seara amada

Sou companheiro da lua
Travessa, viela e rua 
Coração apaixonado
A noite é que me ensina
A minha vida é uma rima 
Sou a noite, sou o fado

Alma de quem o sente

Manuel Bogalho *fado bagdad*
Repertório de Marina Mota

Há muito p’raí quem diga
Que o fado já não é fado
Que essa canção tão antiga
Está a ser posta de lado

Quem o diz que desista 
É melhor estar calado
Do passado ao presente 
Fado é a voz do povo
Quando nasce um fadista 
Nasce com ele um fado
Por isso eternamente 
O fado é sempre novo

O fado que é meu enlevo
Com prazer devo
Sempre estimar
Faz parte do meu viver
E até morrer 
O hei-de cantar;
P’ra mostrar a essa gente
Que o fado é alma 
De quem o sente

Desde os tempo que lá vão
Esta canção sem igual
É a mais bela canção
Das canções de Portugal

Por isso não aceito 
Aquele que se arrisca
A escutar fado ali 
Mostrando desagrado
Porque tenho no peito 
Um coração fadista
P’ra cantar e sentir 
O verdadeiro fado

Noite cheia de estrelas

Letra e musica de Candido das Neves
Repertório de António Zambujo

Noite alta, céu risonho
A quietude é quase um sonho
O luar cai sobre a mata
Qual uma chuva de prata
Claríssimo esplendor
Só tu dormes
Não escutas o teu cantor
Revelando à lua airosa
A história dolorosa deste amor

Lua, manda a tua luz prateada
Despertar a minha amada
Quero matar meus desejos
Sufocá-la com meus beijos
Canto, e a mulher que eu amo tanto
Não me escuta, está dormindo
Canto e por fim
Nem a lua tem pena de mim
Pois ao ver que quem te chama sou eu
Entre a neblina se escondeu

Lá no alto a lua esquiva
Está no céu tão pensativa
As estrelas tão serenas
Qual dilúvio de falenas
Andam tontas ao luar
Todo o astral ficou silente para escutar
O teu nome entre as endeixas
As dolorosas queixas ao luar

Cravo poeta

Fernando Jô / Carlos da Maia
Repertório de Artur Batalha

A NECESSITAR DE CONIRMAÇÃO
Embora na ficha técnica da gravação apareça mencionado o nome de Fernando Jô 
como tendo sido o autor da letra, chegou-me a informação que a autoria pertence a 
Jorge Fernando.

Nesta hora, a poesia
É a máxima distância
Que me separa do mundo
E da noite negra e fria
Sobe a haste da infãncia
Nasce um cravo vagabundo

Cresce de tudo um poema
Pelos muros da cidade 
Sem medos de amanhecer
Nas raízes morre a algema
Que lhe prendia a idade 
Com decretos de viver

Sorri ao mundo, sorri
Em cada folha um poema 
Cravo de verso na mão
As pétalas que te vesti
Sem usar de estratagema 
Dão ao meu fado, razão

Trago uma rua no peito

Tó Moliças / Popular *fado das horas*
Repertório de Ricardo Ribeiro

Trago uma rua no peito
Toda empedrada com fado
Que vou pisando com jeito
P’ra não pisar o passado

Quero morrer na saudade 
Que vivo morrendo em ti
Quero os beijos que perdi 
Na traição da felicidade;
Quero morrer na saudade 
Do teu corpo idolatrado
Pra reviver a teu lado 
Este amor puro e perfeito
Trago uma rua no peito
Toda empedrada com fado

E quero a doce loucura 
De te ouvir aqui presente
De te ver à minha frente 
E andar à tua procura;
Quero viver na tortura 
Do teu corpo destroçado
Vago num grito calado 
P’ra te merecer no meu leito
Que vou pisando com jeito
Pra não pisar o passado

Que mãos são essas

Fernando Campos de Castro / Henrique Lourenço *fado cigana*
Repertório de Nélson Duarte

Que mãos são essas que trazes
Essas mãos com que me fazes
Carícias que nunca vi
São duas mãos que se agitam
E em cada gesto me gritam
Palavras que bebo em ti

Que mãos são essas libertas
Nas madrugadas abertas 
De cada noite que temos
São duas mãos de ansiedade
A procurarem verdade 
Nos sonhos que os dois vivemos

Que mãos são essas tão frias
Essas mãos com que fazias 
Carícias como ninguém
Que mãos são essas paradas
Como marés adiadas 
Nas praias que o corpo tem

Que mãos são essas distantes
Essas mãos tão inconstantes 
Que habitam os sonhos meus
Que mãos são essas erguidas
A lembrarem despedidas 
A quem não quer um adeus

Passeio de Santo António

Augusto Gil / Frei Hermano da Câmara
Gravado em fado por Natércia da Conceição

Saíra Santo António do convento
A dar o seu passeio costumado
E a decorar, num tom rezado e lento
Um cândido sermão sobre o pecado

Andando, andando sempre, repetia
O divino sermão piedoso e brando
E nem notou que a tarde esmorecia
Que vinha a noite plácida baixando

E andando, andando, viu-se num outeiro
Com árvores e casas espalhadas
Que ficava distante do mosteiro
Uma légua das fartas, das puxadas

Surpreendido por se ver tão longe
E fraco por haver andado tanto
Sentou-se a descansar o bom do monge
Com a resignação de quem é santo

O luar, um luar claríssimo nasceu
Num raio dessa linda claridade
O Menino Jesus baixou do céu
Pôs-se a brincar com o capuz do frade

Perto, uma bica de água murmurante
Juntava o seu murmúrio ao dos pinhais
Os rouxinóis ouviam-se distante
O luar, mais alto, iluminava mais

De braço dado, para a fonte, vinha
Um par de noivos todo satisfeito
Ela trazia ao ombro a cantarinha
Ele trazia… o coração no peito

Sem suspeitarem de que alguém os visse
Trocaram beijos ao luar tranquilo
O Menino, porém, ouviu e disse:
Ó Frei António, o que foi aquilo?

O Santo, erguendo a manga de burel
Para tapar o noivo e a namorada
Mentiu numa voz doce como o mel:
Não sei o que fosse, eu cá não ouvi nada

Uma risada límpida, sonora
Vibrou em notas de oiro no caminho
Ouviste, Frei António? ouviste agora?
Ouvi, Senhor, ouvi, é um passarinho!

Tu não estás com a cabeça boa
Um passarinho a cantar assim!…
E o pobre Santo António de Lisboa
Calou-se embaraçado, mas por fim

Corado como as vestes dos cardeais
Achou esta saída redentora:
Se o Menino Jesus pergunta mais
Queixo-me à sua mãe, Nossa Senhora!

Voltando-lhe a carinha contra a luz
E contra aquele amor sem casamento
Pegou-lhe ao colo e acrescentou:
Jesus, são horas… e abalaram pró convento

Fado da solidão

Nelson de Barros / Frederico Valério
Repertório de Fernanda Maria

Não sei se voltas ou não
Ou já não és meu... talvez
Só sei que o meu coração
A fé não perdeu... de vez

A noite traz o receio
Faz medo faz
Pois o meu quarto está cheio
De sonhos em que não estás

Não quis dar por coisa vã
Aos nossos fracassos... fim
Feliz, a minha manhã
Nascia em teus braços... sim

Carícia que era calada
Que mal sentias
De te beijar desesperada
Enquanto amor, tu dormias
Ciúmes, tive-os de amante
Como punhais
Mas nunca se ama bastante
Quando não se ama demais

Santa mentira

Domingos G. Costa / Casimiro Ramos *fado três bairros*
Repertório de Tristão da Silva

Quando a vires faz-me um favor
Diz-lhe que nunca a amei
Que pode andar à vontade
E que todo aquele amor
Que mentindo lhe jurei
Foi pura leviandade

Diz-lhe mais, que o meu sorriso
Com que ela julgava preso 
O meu coração ao seu
Muita vez me foi preciso
P'ra mascarar o desprezo 
Que na minh’alma viveu

Corre e vai dizer-lhe agora
Que não choro, o ter perdido 
Algum amor verdadeiro
A minha revolta mora
Na razão de não ter sido 
Eu a deixá-la primeiro

E mal me voltou as costas
Esse amigo, os olhos meus 
Ficaram baços de pranto
Fiquei p’ráli de mãos postas
Pedindo perdão a Deus 
Por lhe ter mentido tanto

Ao menos se tu soubesses

Flávio Gil / Raul Pinto
Repertório de Sandra Correia

Soubesses quanto desejo
Do teu nome ter a cor
Tatuada no meu peito
E poderia num beijo
Ser a calma e o calor
Dum ninho mais que perfeito

Soubesses quanto preciso
Das tuas mãos, dos teus dedos
A desenharem-me o rosto
E logo sem pré-aviso
Sem receios nem segredos
Ser-me-ias sol de agosto

Quanto quero, amor-verdade
Ter-te em mim mais do que a mim
De tanto que me aconteces
Ó minha boca metade
Meu princípio, no meu fim
Ao menos se tu soubesses

Longe daqui

Hernâni Correia / Arlindo de Carvalho
Repertório de Amália

Em sonho lá vou de fugida
Tão longe daqui, tão longe
É triste viver tendo a vida
Tão longe daqui, tão longe

Mais triste será quem não sofre
Do amor a prisão sem grades
No meu coração há um cofre
Com jóias que são saudades

Tenho o meu amor para além do rio
E eu cá deste lado cheinha de frio
Tenho o meu amor para além do mar
E tantos abraços e beijos p'ra dar

Ó bem que me dá mil cuidados
Tão longe daqui, tão longe
A lua me leva recados
Tão longe daqui, tão longe

Quem me dera este céu adiante
Correndo veloz no vento
Irás a chegar num instante

Onde está o meu pensamento

Pela mão da dor

Jorge Fernando / Alfredo Duarte *fado versículo*
Repertório de Jorge Nunes

Obrigado, como dóis, mas obrigado
A que fundos de mim mesmo eu desci
Deste de mim a ver um outro lado
E não sei se ainda vivo ou se morri

Mas pla mão dor desci ao meu profundo
Não sabia existir-me em tal lugar
Meus dois olhos só viam p’ra ver o mundo
Sem saber o que há p’ra ver, se os fechar

Onde estou não é onde quero estar agora
Resta-me apenas crescer, mesmo forçado
Vou pôr-te fora de mim, deitar-te fora

Não gostas dela não gostas de mim

José Patrício / Armando Machado *fado licas*
Repertório de José Patrício

Nada mais entre nós há p’ra falar
Estar perto de ti eu já não quero
Jamais tu voltarás a enganar
Quem tinha amor por ti louco e sincero

Disseste não gostar dessa mulher
A quem devo a razão do meu viver
Repara que não é uma qualquer
Foi ela que sofreu ao meu nascer

Por isso nunca mais podes ser minha
Não podemos pisar o mesmo trilho
Se dizes não gostar dessa velhinha
Também não poderás gostar do filho

Um outro amor p’ra mim quero encontrar
Que tenha como eu amor também
Àquela a quem p’ra sempre eu hei-de amar
Pois é a minha querida e santa mãe

Aquele casaco amigo

José Patrício / Georgino de Sousa *fado georgino*
Repertório de José Patrício

Em noite fria sem lua
Encontrei naquela rua
Uma mulher soluçando
Eu dela me aproximei
Com respeito perguntei
Porque é que estava chorando

Ela nada respondeu
Apenas me olhou, Deus meu 
Que tristeza o seu olhar
O meu casaco despi
Os seus ombros eu cobri 
Sem na maldade pensar

P’ra minha casa a levei
A minha cama eu lhe dei 
Outra p’ra mim fui fazer
Mas quando a manhã surgiu
Ela não estava, saiu 
Foi-se sem nada dizer

Que Deus lhe dê bom caminho
Luz de esperança, algum carinho 
Neste mundo de ilusões
Se outro casaco encontrar
E os seus ombros tapar 
Sejam boas intenções