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As letras publicadas referem a fonte de extração, ou seja: nem sempre são mencionados os legítimos criadores dos temas aqui apresentados.
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* 7.140 LETRAS <> 3.082.000 VISITAS * FEVEREIRO 2024

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Vou dar de beber à alegria

Alberto Janes / Manuel Paião / Eduardo Damas
Repertório de Hermínia Silva


Passei ontem pela rua onde morava
A cantada e recantada Mariquinhas
E qual não é o meu espanto
Olho e vejo por encanto
Outra vez lá nas janelas, tabuínhas;
Corri e bati à porta
E até fiquei quase morta
Quando ela se abriu pelas alminhas
Pois quem veio a porta abrir e a sorrir
Era mesmo a Mariquinhas

Ai a Mariquinhas está tão linda!

Está mais gordinha!... pesa 100 kilos
Mas como gordura é formusura

Ela não se importa nada com isso
Estava a comer jaquinzinhos


Eu entrei e abracei a Mariquinhas
Que me contou que um senhor de falas finas
Lhe deu a casa que é sua
Pôs o prego na rua
E correu com o tal senhor que era lingrinhas;
Mandou caiar as paredes
Pôs cortinados de chita 
Nas janelas tão bonitas, às bolinhas
E por fora, p’ra chatear as vizinhas
Janelas com tabuínhas


Bem feito!... lá na rua ficaram todas danadas
Agora já não podem deitar para lá os mirones
É  claro
De que é que ela se foi lembrar!
É uma grande camarada, a Mariquinhas


Já tiraram os caixilhos às voltinhas
E as janelas já estão todas catitinhas
E p’ra afastar os temores 
Dos enguiços dos penhores
Defumou a casa toda com ervinhas;
Pôs incenso das igrejas

E p’ra acabar co'as invejas
Pôs um chifre atrás da porta, às voltinhas
E na cama, uma colcha feita à mão
Debruada com bolinhas

Ai... a Mariquinhas é muito prendada
Estava a fazer uma colcha toda em crochet
Jê ma ofereceu!... 
Diz que é para eu estrear no Natal
A colcha pesa 50 kilos
Já me estou a ver pela porta fora 
Com a colcha às costas

Lá está tudo, tudo, tudo, até o xaile
E a guitarra enfeitada com fitinhas
E sob a cama, reparo...
Um peniquinho de barro
Que é bonito e pintadinho com florinhas;
E eu fiquei tão contente
Que ficamos calmamente
A beber até de manhã, umas pinguinhas
Pois agora volta tudo ao tempo antigo
Na casa da Mariquinhas

Fado do Chiado

Ary dos Santos / Martinho d’Assunção
Repertório de Maria da Fé


O Chiado é um janota
Catrapiscando a cidade
Que apesar de ser velhota
Não parece a sua idade

Cidade com bandolete 
Toda franjada a basalto
A cheirar a sabonete 
De alfazema do mar alto

Perfume de viúvinha 
Toda vestida de preto
A namorar á tardinha 
Na igreja do Loreto

Cidade com violetas 
De decote recatado
Não vão os moços poetas 
Atraiçoar o Chiado

Madeira, senhora minha

José Luís Gordo / Fontes Rocha
Repertório de Maria da Fé

Madeira, senhora minha
Senhora dos meus encantos
Senhora mulher raínha
De flores e mares tantos

Tens um tapete de espuma 
Feito de flores e de mar
E tens nos seios a bruma 
Quando a noite te vem espreitar

Pelas tardes soalheiras 
Ao bailinho vais bailar
E de saias domingueiras 
Bailas no baile a cantar

Tens nos olhos as orquídeas 
Dum povo que só te ama
E das flores tens o cheiro 
Que deitas na tua cama

Feita de lençol, de mar 
E colcha feita de céu
Almofadas de luar 
Onde dormes tu mais eu

Gosto de ti quando mentes

João Maria do Amaral / Manuel Cascais
Repertório de Maria Teresa de Noronha


Gosto de ti quando mentes
A mentir-me tens amor
A verdade que tu sentes
É desprezo, é bem pior

A verdade que não dizes
É desdém, não é amor
Nós nunca somos felizes
Em saber da nossa dor

O teu desprezo é maldade
Gostas de mim a fingir
Nunca me fales verdade
Só te desejo a mentir

É loucura concerteza

Jorge Rosa / Fontes Rocha
Repertório de Maria da Fé


É loucura concerteza
A incerteza deste amor
Dás-me amargura e tristeza
E eu dou-te tanto valor

Sabendo bem como abusas 
Do meu afeto e carinho
Procuro as ruas que cruzas 
P’ra cruzar o teu caminho

Ao deitar-me choro e juro 
Nunca mais te procurar
E ao levantar-me procuro 
Maneira de te encontrar

Atrás de ti levo a vida 
Deixando ficar trás
Tanta coisa conseguida 
Em troca do que não dás

Diz lá se não é loucura 
Este modo de gostar
Viver à tua procura 
Com medo de te encontrar

Vives no meu pensamento

Manuel Carvalho / Joaquim Campos *fado rosita*
Repertório de Joaquim Brandão


Não me sais do pensamento
Tu andas sempre comigo
A cada hora e momento
Meu amor, falo contigo

Para te ver a fingir 
Basta meus olhos fechar
E tu lá vens a sorrir 
À minha mente a brincar

À noite sonho contigo 
E adormeço num beijo
Mas durmo para meu castigo 
Num sono feito desejo

E quando me ponho a pé 
Lá começa o meu tormento
Um beijo sabe a café 
Não me sais do pensamento

Tive um amor e deixei-o

José Luís Gordo / Fontes Rocha
Repertório de Maria da Fé


Tive um amor e deixei-o
Deixei-o por tanto o amar
Partiu-se o amor ao meio
Fiquei sózinha a chorar

Ai meu amor verdadeiro 
Ando louca por voltar
Voltar ao beijo primeiro 
Que tanto me faz penar

São penas, amargas penas 
As penas que tu me dás
Parecem tristes novenas 
Os dias em que tu não estás

Ai céu azul, minha cor 
Minhas esperanças sadias
Ai céu azul, meu amor 
Meu amor todos os dias

Sonhei abraçar-me à vida

Gualter Pereira / Maria Helena Reis
Repertório de Hermínia Silva 


Sonhei um dia abraçar-me à vida
Sonhei um dia ser, só ser mar
E quis que o amor fosse guarida
Dum sonho que quis sonhar

Julguei que os meus olhos fossem estrelas
Julguei que os meus braços fossem vento
E quis que a terra e o céu se unissem
Num beijo sem pranto e sem sofrimento 


Vieste 
Numa manhã de ternura
Trouxeste 

P’ra meu lado a felicidade
Partiste 

Numa noite de tortura
Deixaste 

Em mim, apenas saudade 

Embora já não estejas a meu lado
Eu sei que a vida não acabou
E canto hoje ainda o mesmo fado
Que outrora o nosso amor inspirou

Não quero pensar mais no que sonhei
Não quero lembrar sonhos que perdi
Só quero que recordes que te amei
E saibas que também já te esqueci


Madeira dos meus encantos

José Luís Gordo / Fontes Rocha
Repertório de Maria da Fé

Madeira minha madeira
Vestida de verde mar
Tens flores na cabeleira
E navios no teu andar

Paraíso de flores
Arco-íris da natureza
Onde Deus pôs tanto amor
Tanta ternura e beleza

Minha terra da minh’alma 
Ai minha linda Madeira
Onde perco o meu olhar 
Nas lonjuras desse mar
Que te veste a vida inteira
Quando a noite se ilumina 
Por sobre as tuas colinas
Pões o teu manto de luz 
Que a todo o mundo seduz
Madeira sempre menina

O teu chão é um tapete
De verde sempre bordado
Tens o doce do teu mel
Por sobre o corpo lavrado

É por isso que eu te canto
Até a voz me doer
Madeira, os teus encantos
Eu nunca mais vou esquecer

Marcha do centenário

Norberto Araújo / Raúl Ferrão
Repertório de Amália


Toda a cidade flutua 
No mar da minha canção
Passeiam na rua 
Pedaços de lua
Que caem do meu balão

Deixem Lisboa folgar 
Não há mal que lhe arrefeça
A rir, a cantar 
Cabeça no ar
Que eu hoje perco a cabeça

Lisboa nasceu p
ertinho do céu
Toda embalada na fé
Lavou-se no rio, a
i ai ai menina
Foi batizada na Sé

Já se fez mulher e
 hoje o que ela quer
É cantar e dar ao pé
Anda em desvario, a
i ai ai menina
Mas que linda que ela é

Dizem que eu velhinha sou 
Há oito séculos nascida
Nessa é que eu não vou 
Por mim não passou
Nem a morte nem a vida

Um págem me fez um fado 
Um vali me leu a sina
Não ter namorado
Nem dor, nem cuidado
E ficar sempre menina

Mãos aladas

Fernando Campos de Castro / Nóbrega e Sousa
Repertório de Natércia Maria

As tuas mãos amor, são como asas
Onde invento este voo sem ter fim
Numa fuga de sonho sobre as casas
Com que chego mais longe, além de mim

Ai amor alado
Amor meu fado, amor sem fim

Nelas percorro o tempo e a distância
Entre o querer ser hoje e regressar
Com tuas mãos amor, á minha infãncia
Donde não tenho pressa de voltar

Ai amor alado
Amor amado, amor sem par

Para matar o tempo e o desgosto
E ganharmos de novo essa alegria
Beberemos mil taças de sol-posto
Sobre um mar de silêncio e fantasia

Ai amor alado
Amor meu fado, minha alegria

Nas tuas mãos aladas de ternura
Hei-de voltar ao ponto de partida
Mas amor, só depois desta loucura
Termos chegado lá longe, além da vida

Ai amor alado

Amor amado da minha vida

Eu tenho uma pena

Letra e musica de Jorge Fernando
Repertório de Luísa Basto


Eu tenho uma pena guardada no peito
Que escreve a verdade das coisas que sinto
É tinta esquecida, dum azul-marinho
É palavra incerta daquilo que não minto

É força premente, cascata parada
Que espera a corrente do rio sentimento
Na hora marcada

Eu tenho uma pena rasgada no peito
Que diz o que sente mesmo devagar
Com tinta decente de tudo o que é gente
Que fala a correr tendo que parar

É forma diferente, é gente por gente
É querer docemente, é querer docemente
O medo de amar

Pássaro do cais

Hélder Moutinho / Paulo Valentim
Repertório de António Rocha


Só tu podes dizer-me o que é Lisboa
Pintada pela cor do teu olhar
Desde a velhinha Sé à Madragoa
Com traços de ternura no andar

Só tu podes dizer o que é o cais
Pintado pelo povo da saudade
O homem que apregoa mil jornais
Que pintam de palavras a cidade

À noite, nas vielas do pecado
Extingue-se o pregão duma varina
Só tu podes dizer-me o que é o fado
Sentido no virar de cada esquina

Só tu podes dizer-me o que é o Tejo
Dos sonhos que regressam do passado
Só tu podes dizer-me o que não vejo
Gaivota da manhã neste meu fado

Ricochete

Natália Correia / Popular
Repertório de Ana Laíns


Que rua vai dar ao tempo?
Que tempo vai dar à rua?
Por onde o firmamento
E a terra se unem na lua?

Que sereia é o poente 
Metade não sei de quê?
A pentear-se com o pente 
Do olhar finito que o vê?

Que margens têm os rios 
Para além das suas margens?
Que viagens são navios? 
Que navios são viagens?

Que palavra é o silêncio? 
Que silêncio é essa voz?
Que num soluço suspenso 
Chora flores dentro de nós?

Fado da vida

Letra e musica de Frederico de Brito
Repertório de Lina Maria Alves
Na discografia desta artista aparece um outro fado 
com o mesmo título

Já vi que pensar em ti 
É tempo escusado
Chorar sofrer e calar 
Tem sido o meu fado
Não é por vontade 
Que a gente se prende
A quem por maldade 
Nem nos compreende

Vocês não pensam talvez 
No mal que nos fazem
E nós ficamos mais sós 
Com a dor que nos trazem
Por mais que me afronte 
Tudo há-de passar
Os rios e as fontes 
Contornam os montes 
E vão ter ao mar

Não sei do amor que deixei 
P’ra ai não sei onde
E então o meu coração 
Já nem me responde
Só tenho a certeza 
Dum fundo desgosto
Além da tristeza 
Estampada no rosto

Também nem tu nem ninguém 
Do amor me convence
Por ser até um prazer 
Que não me pertence
Julguei-me envolvida 
Num fado trinado
Mas vou convencida 
Que o fado na vida 
É sempre arrastado

Versos à minha mãe

Manuel Carvalho / Raúl Ferrão *fado carriche*
Repertório de Rosita

Se pudesses cá voltar
Ó minha mãe minha santa
Tinha tanta coisa tanta
Minha mãe p’ra te contar

Na vida o amor de alguém 
Para amar eu conheci
Não me compensa de ti 
Mas sou feliz minha mãe

P’ra compensar teus afetos 
Dos filhos tenho meiguices
Ó minha mãe se tu visses 
Que lindos são os teus netos

Eu rezo á virgem por ti 
Saudosa do teu amor
Minha vida era melhor 
Se tu voltasses aqui

Num canto desse jardim 
Se vires o meu pai também
Diz-lhe que vai tudo bem 
E dá-lhe um beijo por mim

Afinal

Angelo Freire / Diogo Clemente
Repertório de Ana Laíns 


Não sei dizer como foi que isto foi
Levada ao mar e à deriva de mim
Dei pelas saudades
Barcos tempestades
E o que nos ficou em nada
Nunca supus meu amor, que o perder
Dobrasse a alma de quem sempre diz
As razões do amor
Sabem-se de cor
Como a noite e a madrugada 


Dobrei o cabo e à praia me vês
Nas caravelas do meu navegar
Trago a pimenta e o sal das marés
Trago as juras d’amor p’ra te dar 


Nunca supus que as palavras de amor
Fossem a água de quem se quer bem
E que o tempo faz
O que eu for capaz
De dizer-te a cada instante
Não quero mais do que o vento e chegar
Mais do que a areia perdida de nós
Quero os meus abraços
Meus e dos teus braços
Eu navegadora errante

Não mexam no fado

Tó Moliças / Carlos Macedo
Repertório de Carlos Macedo

Que o fado é pobre é banal
Diz só quem fala por mal
Quem o não sabe entender
Se o fado não fosse pobre
Tão fado, simples e nobre
Era outra coisa qualquer

Deixem-no estar como está
Porque Deus não deixará 
Que lhe dêem outro jeito
Ninguém pense dar-lhe fim
Pois foi Deus que o fez assim 
E Deus fez tudo perfeito

Até os anjos do céu
Num canto que Deus lhes dê 
Têm um retiro sagrado
Que fica até, por sinal
Por cima de Portugal 
P’ra melhor se ouvir o fado

Os seres são o que são

Letra e musica de Paco Bandeira
Repertório de Lúisa Basto

É sempre tarde demais ou ‘inda é cedo
Nunca estou a horas certas c’oa razão
Já tenho chegado a tempo, porém quando chego
Não é a razão que encontro, é outra a condição;
Desesperar ou desistir não adianta
Os seres são o que são

Viver aqui é sempre um desatino
Um desencontro de passagem
Um fado que é fatal como o destino
Uma miragem

Há que aprender a viver na realidade
Ler p’ra lá do que se escreve, o que se diz
Quantas vezes é mentindo que se fala verdade
E dizendo bem por vezes, tudo se desdiz;
É necessário aprender muita maldade
P’ra viver bem aqui

Entre a maldade escondida dos *faz-de-conta*
E a piedosa bondade da oração
Existe ao direito á vida que p’ra muitos não conta
O que conta é a conta, o nome, a posição
Barafustar, discutir, não adianta
Os seres são o que são

Não me venhas ver ao fado

Guilherme Pereira da Rosa / Francisco José Marques
Repertório de Maria José da Guia


Não me venhas ver ao fado
Por favor passa de lado
Vou começar nova vida
Deixa que eu amor te esqueça
Ou pelo menos que pareça
Que de ti já estou esquecida

Não me venhas ver ao fado
Deixa cair no passado 
Ventura que já morreu
Já bem basta esta maldade
Ó pena de uma saudade 
Que é tão tua como eu

Não me venhas ver ao fado
Onde um peito magoado 
Canta mágoas e revoltas
Mas se voltas qualquer dia
É de tanta ave -Maria 
Que rezei pela tua volta

Senhora da saúde

Francisco Radamanto / Raúl Ferrão *fado alcântara*
Repertório de Anita Guerreiro

Ai Mouraria roubam-te a jóia mais bela
A dona airosa capela que é teu brasão
Ai nunca mais há pelas ruas rosmaninho
A atapetar o caminho da procissão

Não faltam mais as matinés engomadas
Chinelas afiambradas e as samarras
Ai mouraria vão levar p’ra outro lado
Nossa Senhora do fado e das guitarras

Padroeira dos corações fadistas
Nas vielas bairristas 
Eras a luz da vida
A teus pés a pinóia do fado
Chorando o seu pecado
Rezava arrependida
Virgem santa, Senhora da saúde
Os homens de alma rude
Roubam-te á Mouraria
Santa virgem sem o teu lindo altar
Onde é que há-de ir rezar
Uma Rosa Maria

Ai Mouraria vai-se-te a graça o encanto
Desse divino recanto da padroeira
Ó pecadora dai-lhe ao menos o desvelo
Dum oratório singelo na Amendoeira


P’ra que as fadistas da Gia e do Capelão
Tenham amparo e perdão na sua dor
P’ra que as guitarras da moirama sonhadora
Rezam a nossa senhora canções de amor

Distante primavera

Hélder Moutinho / Alfredo Duarte *fado versículo*
Repertório de Marco Oliveira


Porque não oiço no ar a tua voz
Entre brumas e segredos escondidos
E descubro que o silêncio entre nós
São mil versos de cantos esquecidos

Porque não vejo no azul escuro da noite
Nas estrelas, esse brilho que é o teu
E procuro a madrugada que me acoite
Num poema que não escrevo, mas é meu

Olha o vento que se estende p’lo caminho
E ensaia a tua dança de voar
És gaivota que só chega a fazer ninho
Quando o tempo te dá tempo para amar

Mas também se perde o tempo que se tem
P’ra gastar só quando chega a primavera
Veste um fado de saudade amor, e vem
Que é inverno mas eu estou à tua espera

Há sempre um tempo na vida

Vasco de Lima Couto / Fontes Rocha
Repertório de Vasco Rafael
Existe, já editada neste blogue, outra versão deste tema
com música de Jorge Barradas e interpretação de Fernando João

Cansado de partir e ficar só
Ao tempo da viagem do meu dia
Olhei aquela esquina onde os teus olhos
Mediram a distância da alegria

Andava o luar a resguardar as horas
No regaço em que Deus motiva as plantas
E foi assim, que a nossa vida inteira
Criou o mar do amor onde tu cantas


Há sempre um tempo na vida 
Onde a vontade perdida
Volta a ser vontade nova
Porque a dor parou a sina
E fez de toda essa esquina
Um horizonte, uma trova

Cada palavra chegada 
Era em nós a madrugada 
Toda no ventre vestida
Pois p’ra ser amor e fado
Corpo a corpo lado a lado
Há sempre um tempo na vida

Agora, cada noite é uma procura
Do que fomos perdendo pela estrada
E cada gesto preso pela ausência
É um sonho a abrir a madrugada

Se me dizes amor, o amor começa
Nesse instante de luz que me vens dar
Encontrei-me sem nome nessa rua
E hoje os teus olhos são o meu lugar

O nome que tu me davas

João Monge / Armando Machado *fado sta luzia*
Repertório de Joana Amendoeira


O nome que tu me davas
Quando á noite me chamavas
Tinha o dom de uma oração
Não tinha som nem palavras
Mas quando tu me chamavas
Nunca te disse que não

Já o vi escrito na lua
Nas pedras da minha rua 
E nas candeias do céu
O nome que tu me davas
Quando em silêncio cantavas 
Era mais teu do que meu

Não era dor nem bondade
Amor fado ou saudade 
Nem a lágrima perdida
O nome que tu me davas
Quando á noite me chamavas 
Era toda a minha vida

Meu filho

José Galhardo / Raúl Ferrão
Repertório de Maria Albertina

Meu filho 
Que coisas tem o destino
Ganhei-te a ti, meu menino
Na hora em que eu me perdi
Meu filho 
Foi Deus que quis consolar-me
E que achou justo pagar-me 
A dor cruel que eu sofri

Meu filho 
Meu grande amor minha alegria 
Sem ti meu bem eu morria
É minha alma quem te diz 
Meu filho 
Que ao pé de ti tudo me passa
E até bem digo a desgraça 
Que me tornou tão feliz

Meu filho 
Só há um amor não te iludo
O amor de mãe que dá tudo 
Sem reclamar nada em troca
Meu filho 
Se me pedisses um dia
A própria vida eu daria
 P’ra ver sorrir essa boca

Meu filho 
Só hoje sei quanto é de terno
O suave peito materno 
Quanto afeto em si contém
Meu filho 
Vai ser a ti meu doce enlevo
Que eu vou pagar o que devo
À santa que é minha mãe

Parolagem da vida

Carlos Drummond de Andrade / Filipe Raposo
Repertório de Ana Laíns

Como a vida muda, como a vida é muda
Como a vida é muda, como a vida é nada

Como a vida é nada, como a vida é tudo
Como a vida muda como a vida

Como a vida é outra, sempre outra, outra
Não a que é vivida, como a vida é vida
Ainda quando morte esculpida em vida

Como a vida vale mais que a própria vida
Sempre renascida em flor e formiga
Em seixo rolado, peito desolado
Coração de amante

Como a vida é forte em suas algemas
Como dói a vida quando tira a veste
Quando tira a veste de prata celeste
Como dói a vida como a vida

Como a vida ri a cada manhã
Do seu próprio absurdo
E a cada momento dá de novo a todos 
Uma prenda estranha

Coisas do nosso amor

Mário Raínho / Francisco J. Marques *fado zé negro*
Repertório de Maria Armanda

Dei à noite a minha voz
Contei-lhe coisas de nós
Fiz da noite, companheira
Mas a noite inconsciente
Foi contar a toda a gente
Do nosso amor, a maneira

Até ao vento contou
Que o nosso amor começou
Na ternura de um olhar
Como se fosse um recado
Correu o vento, apressado 
Foi falar de nós, ao mar

O mar contou esta trova
Ao luar, à lua nova 
Às estrelas e a Deus
E o nosso amor, agora
É cantado a toda a hora 
Até no reino dos céus

Cuidei que tinha morrido

Pedro Homem de Mello / Alain Oulman
Repertório de Amália Rodrigues

Ao passar pelo ribeiro
Onde às vezes me debruço
Fitou-me alguém corpo inteiro

Dobrado como um soluço

Pupilas negras tão lassas
Raízes iguais às minhas
Meu amor quando me enlaças 
Por ventura as adivinhas

Que palidez nesse rosto 
Sob o lençol de luar
Tal e qual quem ao sol posto 
Estivera a agonizar

Deram-me então por conselho 
Tirar de mim o sentido
Mas depois vendo-me ao espelho 
Cuidei que tinha morrido

Quando por fim amanhece

Pedro Assis Coimbra / David Zacaria 
Repertório de Joana Amendoeira

Quando por fim amanhece
E Lisboa se desperta
É que os teus olhos perfeitos
Batem às janelas dos meus

Os dedos finos ainda não voltaram
E como o fado está à minha espera
Uso as metáforas do povo
E deixo a ternura rimar


Permaneço por isso distante
Longe de ti, longe dos maus
Bem perto do coração do vento
De toda a alegria da minha canção


Sim, porque no Tejo de todos
E nos lábios dos amantes
Navega um barco do pensamento
Feito em fogo, desfeito em luz

Porquê a verdade à noite

Silva Ferreira / Jaime Santos Jnr 
Repertório de Ricardo Ribeiro 


Porquê dizer agora o que não quero
Porquê falar agora do passado
Porquê tentar agora ser sincero
Porquê falar falar de amor em mais um fado

Rasgar a tua noite com verdades
Porquê se as estrelas são mentira
E as penas com que escrevem a saudade
São setas que o ciúme ainda me atira

Porquê esperar agora como espero
Que voltes a deitar-te a meu lado
Porquê dizer agora o que não quero
Porquê falar agora do passado

Lisboa no coração

João Monge / Bernardo Sassetti
Repertóriio de Joana Amendoeira

Gosto da tua ternura
Da maneira de abraçar
Do teu jogo de cintuta
Nem vale a pena falar

Gosto de ti como és
Feita para regressar
A fingir que não vês
Despida até aos pés
Deitada á beira mar


Garota do Bairro da Bica 
Morena da madragoa
De perna ao léu em Benfica 
Mulata de Lisboa
Menina das avenidas 
Garina do Conde Barão
Mulher de muitas vidas 
Lisboa no meu coração

Este meu amor secreto

Manuel Carvalho / Pedro Rodrigues *fado primavera*
Repertório de Amélia Maria


Este meu amor secreto
Vive tão longe e tão perto
Faz minha vida em pedaços
Mas de tão lindo e profundo
Eu sinto que tenho o mundo
Quando ele está nos meus braços

Um dia se não o vejo
A saudade e o desejo 
Vão aumentando em meu peito
Eu vivo nesta ansiedade
E esta cumplicidade 
Traz minha vida sem jeito

Estendo o braço na cama
Mas o frio não me engana 
O meu peito é um deserto
E com ele quando sonho
Muitas vezes eu suponho 
Que está comigo tão perto

Seu beijo é bebida
Que sacia a minha vida 
Na sede do meu afeto
É tão doce e sublime
Que de tão puro redime 
Este meu amor secreto

Profissão mulher

Rui Manuel / Carlos Macedo
Repertório de Carlos Macedo


Só tu sabes fiar dias sem hora
Numa roca de cansaços
Erguer quatro paredes no teu mundo
Com o linho dos teus braços

O mundo é a tua casa e deve ter
Alicerces tão profundos
Que não te sobra tempo p’ra saber
D’outros mundos que há lá fora

Dona de casa
Quantas rugas tem o ano
A noite insiste em dizer 
Que só dormes por engano

Dona de casa 
E dona da solidão
Que te vê envelhecer 
Entre a cama e o fogão

Dona de casa 
A quantos queiram saber
Qual a tua profissão
Responde; apenas mulher

Os teus silêncios são gritos do amor
Que não fazes mas consentes
E as lágrimas que escondes são o berço
Duma espera permanente

Ninguém te diz que é teu o coração
Que sustenta o universo
E a terra se desloca em rotação
Porque gira em teu redor

O pão das palavras

Pedro Assis Coimbra / Pedro Pinhal
Repertório de Joana Amendoeira


Vem meu amor, vem até mim
Traz-me manhãs claras no pão das palavras
E os afluentes da musica nas açucenas dos lábios

Vem meu amor, vem até mim
Traz-me tardes de sol nas janelas dos dedos
E as cinzas mornas do fogo no forno das carícias

Vem meu amor, vem até mim
Traz-me noites secretas no teu sorriso de cetim
Lareira da minha alegria, da nossa canção sem fim

Vem meu amor
Vem comigo... vem por mim

Condição

Diogo Clemente / Paulo Loureiro
Repertório de Ana Laíns


Parti com as horas e a razão
Cheguei, mais um adeus, mais uma vez
Porque há-de ser maior 
Que a angústia o meu perdão
Porque hei-de estar sempre 
Na soma que Deus fez

Parti, já sem longe, sem olhar
Cheguei com olhos d’água á tua mão
No fundo, nada tem a casa por esperar
E deixo o frio a dor e as roupas pelo chão

Depois, pouco mais que um Outono
Vem p’ra ficar sobre mim
Sei de cor esta entregue à noite vã
Meu amor, somos barcos de outro mar
Nós morremos devagar
E nascemos p’la manhã

Parti do teu mundo e como vês
Aqui me tens inteira por te amar
Sou como a beira-mar 
Do Inverno e as marés
Que vão e voltam sempre 
À areia, sempre ao mar

Esta saudade não quer partir

Letra e musica de Samuel Lopes
Repertório de Ana Laíns


Se ao acordar chamasse por ti
E o eco do quarto não soasse assim
Os muros da saudade que não parti
São hora de silêncio que vivem sem mim

Esta inocência tarda em abalar
A fragilidade não se quer quebrar
E a incerteza que me faz procurar
O rasto deixado pelo teu olhar

Esta saudade não quer partir
Os meus sentidos não a deixam ir
Esta saudade que me quer seduzir
Invade o meu corpo qe espera por ti

És a poesia que me dá prazer
E a medalha que canto sem querer
A cumplicidade ao amanhecer
És a loucura que me faz viver

Fado de um amor que ficou

João Monge / Paulo Paz
Repertório de Joana Amendoeira

Bem sei que tinhas os olhos no mar
Quando te via chegar
Com a camisa engomada
Bem sei que procuravas o jeito
Que eu tenho, de abrir o peito
Quando não querias mais nada

Trazias uma flor na lapela
E eu espreitava à janela
Quando te ouvia chamar
Trazias a lua no teu sorriso
Trazias aquilo que era preciso
Para te deixar entrar

Quem sabe as juras que nós fizemos
A estrela que prometemos
Um ao outro, noite fora
Quem sabe porque cegou essa estrela
Se não voltarmos a vê-la
Quem sabe de nós agora

Eu guardo no fundo do coração
Que o amor é só perdão
E um sonho em duas metades
Eu guardo tudo o que deixaste em mim
Desde sempre, até ao fim
E às vezes guardo saudades

Porta do coração

José Pereira (ou) Carlos Conde? / Pedro Rodrigues
Repertório de Manuel Dias 
No registo discográfico de Manuel Dias esta letra aparece atribuída a 
José Pereira
No registo discográfico de Ricardo Ribeiro esta letra aparece atribuída a 
Carlos Conde

Feia ou bonita, que importa 
Se nos assalta a paixão 
A quem nos sabe vencer 
O coração tem uma porta 
E a porta do coração 
Abre-se às vezes sem querer 

Cruzei um dia na vida 
Um olhar tanto a preceito 
Que me toldou a presença 
Ela não pediu guarida 
Mas bateu com tanto jeito 
Que entrou sem eu dar licença 

O amor é um imprevisto 
Faz-nos rir, faz-nos chorar 
Faz-nos viver e sentir 
O meu coração tem disto 
Às vezes tento fechar 
Mas ele teima em abrir 

Que importa o riso, a traição 
Quem ama, tudo suporta 
E o resto não tem valor 
Só quem não tem coração 
É que não uma porta 
P’ra dar entrada ao amor

Trago o teu fado guardado

Pedro Rapoula, Ricardo Parreira / Pedro Pinhal, J.Amendoeira
Repertório de Joana Amendoeira

Trago o teu fado guardado
Dentro do meu coração
Hei-de cantá-lo de noite
E na hora mais sombria

Trago o teu fado guardado 
Dentro do meu coração
Hei-de cantá-lo ao vento
Como se este meu lamento 
Fosse a voz da solidão

Trago o teu fado marcado 
Nas profundezas da alma
Hei-de chorá-lo sózinho
Cantando pelo caminho 
A toda a gente que passa

Trago o teu fado escrito 
No brilho do meu olhar
Hei-de cantá-lo p’ra sempre
Mesmo sabendo-te ausente 
Porque nasci p’ra te amar

Fria claridade

Pedro Homem de Mello / Pedro Rodrigues
Repertório de João Braga 


No meio da claridade
Daquele tão triste dia
Grande, grande era a cidade
E ninguém me conhecia

Rostos, carros, movimentos 
Traziam noite e segredo
Só eu me sentia lento 
E avançava quase a medo

Só a saudade da pátria 
Longínqua, me acompanhava
Quisera voltar à serra 
E ouvir o vento e a água brava

Quisera voltar ao bosque 
Onde sei que sou lembrado
Voltar às l
eiras de Afife
E ouvir a canção tão mansa 
Do pastor que guarda o gado

Mas nas ruas sinuosas 
Ainda o rumor crescera
E eu contemplava assombrado

Minhas mãos ontem com rosas
Minhas mãos hoje de cera

Então passaram por mim 
Uns olhos lindos, depois
Julguei sonhar, vendo enfim 
Dois olhos, como há só dois

Em todos os meus sentidos 
Tive presságios de adeus
E os olhos logo perdidos 
Afastaram-se dos meus

Acordei, a claridade 
Fez-se maior e mais fria
Grande, grande era a cidade 
E ninguém me conhecia

Da morte não espero nada

Letra e musica de Amélia Muge
Repertório de Ana Laíns


Não sei se parta se fique 
Da morte não espero nada
Vou mas é fazer-me à estrada
Andar co'a vida ao despique;
E sobretudo no Entrudo
Manter a cara lavada 
A cantar à desgarrada
A cavalo numa espiga 
Se assim quiser a cantiga;
E bailar e fazer pose 
No prato do arroz doce
P’ra alegrar a madrugada
Vou mas é fazer-me à estrada 
Da morte não espero nada

Não sei se entenderam bem 
Não é uma brincadeira
A história, se é verdadeira 
Dá sempre aquilo que tem;
A fantasia escondida 
De qualquer coisa perdida
Não sei se fico, se vou
Eu já nem sei onde estou;
Com tanta hora de estrada 
Eu já nem sei estar parada
E se oiço um assobio 
Continuo, mas sorrio
Vou mas é fazer-me à estrada 
Da morte não espero nada

Não sei quem veio acudir 
Ouço contar uma história
Com voz de pai ou de mãe 
Ao pé de mim está alguém
E nunca é a fingir
Quando estou quase a dormir;
Chegado o tempo das mágoas 
Com as luzes apagadas
Eu olho o mundo daqui 
E que lindo que ele é
E ao vê-lo eu sinto até 
Que já morria por ti
Vou mas é fazer-me à estrada 
Da morte não espero nada

Disfarçando

Letra e musica de Zé Manuel de Castro
Repertório do autor


P’ra mascarar 
A afeição que por ti sinto
Sacrifico-me a chamar 
Ao nosso amor, amizade
Mas no olhar
Nada escondo, nunca minto
Porque a força de gostar 
Me obriga a falar verdade

Quando o amor 
Por ser verdade acontece
Mascará-lo mais parece
Vontade de o revelar
Seja lá qual for 
O disfarce que o encubra
Há sempre alguém que descubra
E o vá contar


P’ra que fingimos 
Uma amizade banal
Se a fingir não conseguimos 
Desmentir nosso sentir
P’ra quê fingir 
Se realmente, afinal
A fingir não conseguimos 
Desmentir nosso sentir

Meu amor é primavera

Rosa de Lobato Faria / Mário Moniz Pereira
Repertório de Joana Amendoeira

Bem sei que o nosso amor 
É como uma andorinha
Que vai e volta e
 era e já não era
Setembro trouxe a chuva miúdinha
Partiste e eu fiquei á tua espera;
Mas já há rosas de Abril no meu jardim
Regressa meu amor, é Primavera

Agora espero por ti
Por fim, mais uma vez
Seremos dois
A casa até parece que sorri
O céu guardou a chuva 
P’ra depois
Agora espero por ti
Até o verde mar 
Tem outra cor
O teu lugar, bem sabes, é aqui
Se não vieres eu morro
Meu amor

Bem sei que o nosso amor 
É como a tempestade
Que o vento é trovoada e furacão
Ás vezes somos feitos de saudade
Ás vezes somos feitos de paixão;
Mas já há sementes de oiro abrindo ao sol
Regressa meu amor, é quase Verão

Minha nau de amargura

Gonçalo Salgueiro / Alfredo Marceneiro
Repertório de Gonçalo Salgueiro

És fado que não cantei
És o amor que não fiz
És o verso inacabado
Deste meu poema triste
Tudo por ti deixei
Mas o destino não quis
Que fosse meu o teu fado
E meu coração não viste

És fado que não cantei 
Minha nau de amargura
Partida deste meu corpo 
Na fé que eu perdi
Tanto por ti esperei 
Qu’alcancei a desventura
De ver em outro porto
 A flor que não colhi

És fado que não cantei 
Minha canção d’ansiedade
Que de mim anda perdida 
Deste que te olhei
Nada mais desejei 
Que matar esta saudade
Tu és meu fado na vida 
Um fado que não cantei

Fado para a minha mãe

José Luís Peixoto / Pedro Pinhal
Repertório de Joana Amendoeira

Escondida no meu rosto
Menina de claridade
O tempo levou-te para longe
No teu lugar, apenas saudade

Aqui, onde canta esta voz
Aqui, onde o tempo não manda
És hoje aquilo que foste
Menina, coração de brilho, menina
Coração a trnsbordar de liberdade

Este ar que respiro por ti
Esta vida que levo só emprestada
É tua de novo, menina
Aqui serás sempre cantada

Aqui, onde canta esta voz
Aqui, neste tempo secreto
Serás sempre aquilo que foste
Mãe, meu segredo de luz, minha menina
Instante incandescente de eternidade

Os bravos

Letra e musica de José Afonso
Repertório do autor 

Eu fui à terra do bravo
Bravo meu bem... 
Para ver se embravecia
Cada vez fiquei mais manso
Bravo meu bem... 
Para tua companhia

Eu fui à terra do bravo
Bravo meu bem... 
Com meu vestido vermelho
O que eu vi lá de mais bravo
Bravo meu bem... 
Foi um mansinho coelho

As ondas do mar são brancas
Bravo meu bem... 
No meio são amarelas
Coitadinho de quem nasce
Bravo meu bem... 
P’ra morrer no meio delas

As quatros operações

Vasco Graça Moura / Pedro Pinhal, Joana Amendoeira
Repertório de Joana Amendoeira


Fui deitar contas à vida
Fiz as quatro operações
Num instante e de seguida
Tirei certas conclusões

Comecei pela adição 
Porque te amei mais e mais
Se fiz essa soma à mão 
Fiz também contas mentais

Aprendi a tabuada 
E vi que multiplicar
Era a forma acelerada 
De o meu amor aumentar

Depois vi que subtraia 
A tua deslealdade
E o total se reduzia 
Para menos de metade

Essa foi a consequência 
Da mentira repetida
E assim a minha existência 
Acabava dividida

E agora não me comove 
Dar-te uma prova provada
Fiz sempre a prova dos nove 
E deu noves fora nada

Enfim... não leves a mal
Que eu te diga em voz serena
Não tiro a prova real 
Porque já não vale a pena

Lisboa pequenina

Tiago Torres da Silva / Casal Ribeiro
Repertório de Linda Leonardo

Oh Lisboa pequenina
És um pregão de varina 
A menina dos meus olhos
Põe-me o braço na cintura
Dá-me um beijo com ternura 
Veste uma saia de folhos

Pus no dedo uma aliança
Mandei vir uma criança 
Que é filha da Madragoa
Outra linda assim, não vejo
Fui batizá-la no Tejo 
Dei-lhe o nome de Lisboa

Lisboa, Lisboa
Menina que canta
És um coração
Que a minha canção 
Leva na garganta
Lisboa, Lisboa
Velhinha que ri
És uma canção
Que o meu coração 
Só canta p’ra ti

Oh Lisboa tão velhinha
Quando tu quiseres ser minha 
Vou queimar uma alcachofra
E tu, rezas amiúde
Na senhora da saúde 
P’ra que o meu peito não sofra

Corri ao ver-te num grito
Tão alegre, tão bonito 
Que parecia a própria vida
Era a Amália a cantar
Uma marcha popular 
Que descia a avenida

Marcha do pião das nicas

Letra e música de Carlos Paião
Gravado por Dulce Guimarães


Anda p'la vida à futrica
O estica larica, o mangas portuga
Fecha-se em copos e copas 
Cafés e cachopas, trabuca e madruga

Galfarro afiambrado 
Pachola arremelgado
De grimpa levantada e garrafal
Amigo do amigo 
Farelo e muito umbigo
Vestiu-se e veio a pé p'ró arraial

Viva o Santo António, viva o São João
Viva o 10 de Junho e a restauração
Viva até São Bento se nos arranjar
Muitos feriados para festejar

Gosta de armar ao efeito 
Baboso e com jeito p’ra ser bagalhudo
Mas na mulher do carteiro 
Já manca o dinheiro, alfaces e é tudo

Se ele anda com nerveco 
Grazina dum caneco
Lá vai o lascarino pró granel
E faz as partes gagas 
Fosquinhas de aldeagas
Palrando até fazer 
Grande aranzel

Chorou por causa da seca 
Que a terra ficou viúva
Até correu seca e Meca 
Fartou-se de pedir chuva
A chuva quis-lhe agradar 
Banhou a terra as culturas
A água deu-lhe p'la barba 
A fome em farturas

Ás vezes já nem petisca
A doença na isca é má pró vistaço
Os vinhos e os jaquinzinhos 
São só descaminhos, vai dar ao esquinaço

És tu pião das nicas 
Das bocas e das dicas
Que pegas nos calcantes e te vais
Adeus leão dos trouxas 
Chupado das carochas
Que foste no embrulho uma vez mais

Tristes horas

Gonçalo Salgueiro / Armando Machado *fado licas*
Repertório de Gonçalo Salgueiro


Encontro-me na noite em horas vás
Quando essa tua imagem me acontece
Recolho-me ao vazio p’las manhãs
Negando a luz do sol que me anoitece

Entrego-me à loucura sem ter o dia
De não ver este amor dentro de mim
Reduzo-me à tortura e à poesia
Onde te esqueço e posso dar-lhe fim

E nestas tristes horas em que me iludo
Cantando sentimentos de outro alguém
Lançando em minha voz o grito mudo
Do mal que é não querer amar ninguém

Sonhando volto ao leito por ti deixado
Torno a beijar a boca que me mente
À luz do dia cumpro um triste fado
De noite serei teu eternamente

Não passas sem mim

Frederico de Brito / José António Sabrosa
Repertório de Cândida Ramos

Vamos fazer uma escolha
És o tronco, eu sou a rama
És o vento, eu sou a folha
És o proveito, eu a fama

És o sol, eu sou a sombra 
És o braço, eu sou a lança
És o mato, eu sou alfombra 
És o desejo, eu a esperança

És o mar, eu sou a areia 
És o pincel, e eu a cor
És o sangue, eu sou a veia 
És o riso, eu sou a dor

És o mundo, eu sou o espaço 
És o princípio, eu o fim
Mas eu sem ti já não passo 
E tu não passas sem mim

Resposta fácil

Domingos Gonçalves da Costa / Popular *fado das horas*
Repertório de António Rocha


Perguntas-me o que significa
Saudade, vou-te dizer
Saudade é tudo o que fica
Depois de tudo morrer


Tu que jamais conheceste 
A dor que as almas tortura
Que só conheces ventura 
E por amor não sofreste;
Tu, que uma saudade agreste 
Nunca te fez padecer
Nem cravou no teu viver 
Um espinho que mortifica
Perguntas-me o que significa
Saudade, vou-te dizer


Saudade é um bem ruim 
Que tortura o coração
É o princípio do fim 
De um sonho sonhado em vão;
Saudade é doce ilusão 
De um amor que não nos quer
Que a gente teima em esquecer 
E a própria dor glorifica
Saudade é tudo o que fica
Depois de tudo morrer

Um fado só para ti

Maria de Lourdes Carvalho / Martinho d'Assunção
Repertório Pedro Lisboa


Fiz-te um poema tristonho
Onde o teu amor risonho
Era promessa e desejo
Moldei teu corpo dormindo
E nos teus lábios, sorrindo
A paz serena dum beijo

Podes ler neste poema
Todo o meu amor por tema 
Minha alma em cada verso
Faz dele um hino de vida
Na grandeza desmedida 
Do descrente universo

És o mote dum poema
Misto de amor e ternura 
De alegria e de verdade
És o retrato feliz
Daquilo que em ti mais quis 
E em mim deixou saudade

Adolescência ferida

António Rocha / Raúl Ferrão *fado carriche*
Repertório de António Rocha


Poema da minha vida
Sem velhice nem infância
Adolescência ferida
No mar da minha inconstância

Poema da minha vida 
Fogo que perdeu a chama
Caminhada resumida 
A sulcos feitos na lama

Sem velhice nem infância 
Vão as verdades morrer
No limite da distância 
Que há entre mim e o meu ser

Adolescência perdida 
Em busca de mundo novo
E da paixão construída 
Com gritos vindos do povo

No mar da minha inconstância 
Naufraga a causa perdida
A que tu dás importância 
Poema da minha vida

Levas nas mãos amarradas
Vontades amordaçadas