Repertório de António Pinto Basto
No beco abandonado
Sem horas que distinga
Com letra que se vinga
Com letra que se vinga
Do sangue atormentado
Vai inscrevendo o fado
Vai inscrevendo o fado
Na trémula restinga
Do corpo macerado
Do corpo macerado
E a pena é uma seringa
Quase em andrajos, nua
Quase em andrajos, nua
No olhar parado voga
Torpor de asas de droga
Torpor de asas de droga
Na palidez da sua
Face, de quem se afoga
Face, de quem se afoga
Chupou-lhe o rosto a lua
Sonâmbula flutua
Sonâmbula flutua
E nada aos deuses roga
Tão longe a juventude
Tão longe a juventude
Em cinzas deslembrada
E tão desfigurada
E tão desfigurada
Ajude ou desajude
Já não lhe vale de nada
Já não lhe vale de nada
Mesmo que a sombra mude
Na sombra se degradada
Na sombra se degradada
Sem que anjo algum a escude
Menina e moça assim
Menina e moça assim
Em casa de seus pais
Criada entre alecrim
Criada entre alecrim
E rosas no jardim
Levaram-na os sinais
Levaram-na os sinais
Das luzes irreais
Agora é quase o fim
Agora é quase o fim
Que a vida estava a mais