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As letras publicadas referem a fonte de extração, ou seja: nem sempre são mencionados os legítimos criadores dos temas aqui apresentados.
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Resposta fácil

Domingos Gonçalves da Costa / Popular *fado das horas*
Repertório de António Rocha


Perguntas-me o que significa
Saudade, vou-te dizer
Saudade é tudo o que fica
Depois de tudo morrer


Tu que jamais conheceste 
A dor que as almas tortura
Que só conheces ventura 
E por amor não sofreste;
Tu, que uma saudade agreste 
Nunca te fez padecer
Nem cravou no teu viver 
Um espinho que mortifica
Perguntas-me o que significa
Saudade, vou-te dizer


Saudade é um bem ruim 
Que tortura o coração
É o princípio do fim 
De um sonho sonhado em vão;
Saudade é doce ilusão 
De um amor que não nos quer
Que a gente teima em esquecer 
E a própria dor glorifica
Saudade é tudo o que fica
Depois de tudo morrer

Um fado só para ti

Maria de Lourdes Carvalho / Martinho d'Assunção
Repertório Pedro Lisboa


Fiz-te um poema tristonho
Onde o teu amor risonho
Era promessa e desejo
Moldei teu corpo dormindo
E nos teus lábios, sorrindo
A paz serena dum beijo

Podes ler neste poema
Todo o meu amor por tema 
Minha alma em cada verso
Faz dele um hino de vida
Na grandeza desmedida 
Do descrente universo

És o mote dum poema
Misto de amor e ternura 
De alegria e de verdade
És o retrato feliz
Daquilo que em ti mais quis 
E em mim deixou saudade

Adolescência ferida

António Rocha / Raúl Ferrão *fado carriche*
Repertório de António Rocha


Poema da minha vida
Sem velhice nem infância
Adolescência ferida
No mar da minha inconstância

Poema da minha vida 
Fogo que perdeu a chama
Caminhada resumida 
A sulcos feitos na lama

Sem velhice nem infância 
Vão as verdades morrer
No limite da distância 
Que há entre mim e o meu ser

Adolescência perdida 
Em busca de mundo novo
E da paixão construída 
Com gritos vindos do povo

No mar da minha inconstância 
Naufraga a causa perdida
A que tu dás importância 
Poema da minha vida

Levas nas mãos amarradas
Vontades amordaçadas

Desdobro a madrugada

Rui Manuel / Manuel Mendes
Repertório de Vasco Rafael


Desdobro a madrugada nos meus olhos
As mãos da minha voz despem guitarras
E o fado é flor sem tempo que desfolho
Silêncio que de mim se desamarra

Passeio devagar entre as palavras
Respiro-lhes a dor, a solidão
E sinto que um sorriso lhes bastava
P’ra darem ao silêncio um coração

Pendentes do cansaço como frutos
Há sonhos perfumados, transparentes
Enquanto trocam horas por minutos
O fado é que lhes serve de semente

É fado esta saudade onde recolho
A vida que de mim se desamarra
Desdobro a madrugada nos meus olhos
As mãos da minha voz despem guitarras

Aqui na verde varanda

José Luís Gordo / Francisco Viana *fado vianinha*
Repertório de Ricardo Ribeiro


Aqui na verde varanda
Do meu peito á tua espera
Não amarei quem me manda
Outra nova primavera

Dos verdes ramos dos campos 
Ganhei esperanças de tempo
E sequei todos os prantos 
E parei todos os ventos

Quantas vezes te esperava 
Debulhado em lençóis de água
Só por ti amor cantava 
Chorando estrelas de mágoa

E assim de verde me visto 
E assim de verde te amo
Assim de verde resisto 
Assim de verde te chamo

Água louca da ribeira

Armando Varejão / José António da Silva *fado bacalhau*
Repertório de Ricardo Ribeiro


Água louca da ribeira
Que corres em cavalgada
Porque não vais devagar?
Essa corrida é cegueira
Não vês nem olhas p’ra nada
Na pressa de ver o mar


Já corri dessa maneira
Nas asas duma ilusão 
Na loucura de chegar
Fui deixando p’la ladeira
Pedaços do coração 
Beijos loucos sem amar

Vida que foste vivida
A correr tão velozmente 
Paraste à beira do mar
Agora vives perdida
São saudades o que sentes 
Por não poderes regressar

Amor sem tréguas

António Gedeão / Mário Pacheco
Repertório de Rodrigo da Costa Félix


É necessário amar 
Qualquer coisa ou alguém
O que interessa é gostar
Não importa de quem
Não importa de quem
Não importa de quê
O que interessa é amar 
Mesmo o que não se vê

Pode ser uma mulher
Uma pedra, uma flor
Uma coisa qualquer
Seja lá o que for
Pode até nem ser nada 
Que em ser se concretize
Coisa apenas pensada 
Que a sonhar se precise

Amar por claridade 
Sem dever a cumprir
Uma oportunidade 
Para olhar e sorrir
Amar como um homem forte
Só ele o sabe e pode-o
Amar até à morte
Amar até ao ódio

Que o ódio, infelizmente
Quando o clima é de horror
É forma inteligente
De se morrer de amor

Só espero que as folhas caiam

Letra e música de Diogo Clemente
Repertório de Gonçalo Salgueiro

Só espero que as folhas caiam neste Outono
P’ra dar cor às palavras que não digo
P’las ruas que passei 
E as bocas que guardei comigo
Só espero que as folhas caiam neste Outono

Que os tons sejam d’amor, quentes de calma
Com aromas de ternura e de desejos
Que o mel dos lábios teus 
Desenhe sobre os meus mil beijos
Que os tons sejam de amor quentes desejos

Porque esta noite trago do mar
Memórias de um navio
Que é noite e o meu olhar treme de frio
No céu d’amor a que me dou
Há uma gaivota que me diz
Que ter-te em mim, amor, é ser feliz

Só espero que o meu bastante não te chegue
Nem cheguem as canções pra te cantar
Por cada melodia
Acorde um novo dia no olhar
E acorde o teu sorriso ao acordar

Se não souberes ainda o que te quero
Por entre alguns segredos e quimeras
Serei numa ansiedade 
Um misto de saudades e esperas
Que o inverno sempre traz as primaveras

Banco de jardim

António Vilar da Costa / Arlindo Carvalho 
Repertório de Emílio dos Santos 


De bibes e laços brincamos os dois
Ao sair da escola, tu esperavas por mim
E o primeiro beijo, trocamos depois
No banco velhinho daquele jardim

Tuas loiras tranças, meus negros cabelos
Já se vão tornando pálido marfim
Num sorriso triste, lembro sempre ao vê-lo
O banco velhinho daquele jardim

Meu saudoso banco de outras mocidades
Alquebrado e velho como os meus avós
Companheiro franco das minhas saudades
És fiel espelho do que somos nós

Já o tempo ingrato lhe mudou a cor
Só não muda o rumo da paixão em mim
'inda nos sentamos a falar de amor
No banco velhinho daquele jardim

Mais tarde, chorando nossas mocidades
Quando a nossa história for chegando ao fim
Vamos concerteza desfolhar saudades
No banco velhinho daquele jardim

Glosa da saudade

Mote: Fernando Machado Soares / Glosa: Saudade dos Santos
Jaime Santos *corrido do mestre zé*
Repertório de Ricardo Ribeiro


Mandei a saudade embora
Atirei-a p’la janela
Mas fui buscá-la lá fora
Já tinha saudades dela


Essa atrevida dizia / Relegada do meu peito
Que era minha por direito / E dali não sairia
Eu que bem a conhecia / Por andar sempre com ela
Já não me revia nela / E então sem mais demora

Mandei a saudade embora
Atirei-a p’la janela

Com o ego aliviado / Desse peso, desse fogo
Decidi entrar no jogo / Doutro ego consolado
E não ouvi de bom grado / A voz da saudade, aquela
Que nos chama e interpela / Como alguém que nos namora

Mas fui buscá-la lá fora
Já tinha saudades dela

Estranha forma de ser

Gonçalo Salgueiro / José António Sabrosa
Repertório de Gonçalo Salgueiro

Eu pertenço ao forte vento
A um triste pensamento
De um Deus que me criou
De uma centelha perdida
Apagada p’la vida
Neste ser me transformou

Voltei aqui p’ra sofrer
Em estranha forma de ser 
Sem saber bem o que sou
Serei misto de loucura
A razão que te procura 
Quando estás onde não estou

Minh’alma te entreguei
Meu corpo te abandonei 
Apenas me resta a voz
Tenho a forma da saudade
Sou memória da verdade 
Sombra apagada de nós

No meu fado rogo ao vento
Que a ti leve este lamento 
P’la solidão esmagado
Vou dar forma a outro ser
Quero à terra pertencer 
P’ra viver sempre a teu lado

Menina da saia verde

Amália Rodrigues / Carlos Gonçalves
Repertório de Gonçalo Salgueiro

Menina da saia verde
Menina do verde olhar
Quem por amores te perde
Muito terá que chorar

Menina da saia verde 
E do avental de folhos
Quem por amores se perde 
Não sabe onde põe os olhos

Menina da saia verde 
Que bem que lhe fica a saia
Quem por amores se perde 
Deixa-me a mim de atalaia

Menina da saia verde 
Eu já lha vejo encarnada
Quem por amores se perde 
Troca as cores não vê nada

Somos do mar e do vinho

Letra e musica de Fernando Girão
Repertório de Ricardo Ribeiro

A nossa vida é tão chata 
E ficamos a pensar
Se merece mesmo a pena 
Nós andarmos a penar

Eu escuto as palavras 
Mas não vejo as ações
Temos muitas teorias 
Mas não temos soluções

Depois bebemos 
Um copo de aguardente
E a vida parece melhor
Somos da terra e do vinho
Temos falta de carinho
E o futuro ainda pior

Mas se surgem os problemas 
Enfrentamos de uma forma audaz
Nós já perdemos o medo
Seja o que for tanto faz

Ah... a nossa vida
É um labirinto de paixões

Quem não fala com verdade
Quem em si não acredita
Quem não joga o jogo certo 
Só semeia a confusão

E nunca mais de mim

Mário Raínho / Alfredo Duarte *alexandrino*
Repertório de Ricardo Ribeiro

E nunca mais de mim, infinita metade
Hás-de sentir saudade, do tempo de nós dois
E nunca mais de mim, terás mais do que agora
Mandei amores embora, e em ti fiquei depois

E nunca mais de mim, noites de lua meia
Se trago a lua cheia, á noite que tu és
E nunca mais de mim, o ciúme de ver
Ondas de mar por querer, beijarem os teu pés

Oh estrela do meu peito, oh fonte de água boa
Cantar que me abençoa, oh torre de marfim
Se em ti tudo é perfeito, pelo amor que me dás
Que eu saiba onde estás, e nunca mais de mim

Fim da saudade

João Fezas Vital / Alfredo Duarte *fado cravo*
Repertório de Joana Amendoeira

Parecendo o vento mais frio
Na margem esquerda do rio
Onde a saudade é só minha
Quem me dera, quem me dera
Que chegasse a primavera
Mas que viesse sózinha

Queimando as horas do dia
Desperdiçando a alegria
Inventei outra afeição
Uma história por contar
Que adormece o meu olhar
Numa ãnsia de perdão

Se a primavera viesse
E em segredo me dissesse
Que te perdes na cidade
Voltaria por canoa
Cantar ao céu de Lisboa
O fim da minha saudade

Como chuva em agosto

Letra e música de Tó Zé Brito
Repertório de Gonçalo Salgueiro

Como chuva em Agosto
Nunca nada é para sempre
Tudo muda tudo passa
Nunca nada é permanente

Como chuva em Agosto 
A vida nunca é igual
Tudo nela é passageiro 
Nada é intemporal

Por isso te vou esquecer 
Vou pensar em mim primeiro
Vou ser frio como o gelo 
Como a chuva de Janeiro

Como chuva em Agosto 
Não há dois dias iguais
Alguns marcam-nos o rosto 
Outros são dias banais

Como chuva em Agosto 
Nada na vida é eterno
Por vezes vamos ao céu 
Outras vezes ao inferno

Naquele tempo

Letra e música de Diogo Clemente
Repertório de Gonçalo Salgueiro


Naquele tempo, amor, a esta hora
Saía para a rua devagar
Deixando-te ao silêncio, como agora
Era uma quase noite
Uma noite quase aurora
E a rua amanhecia ao meu olhar
Naquele tempo, amor, a esta hora

Cansado, o meu corpo tão cansado
Deixava o teu na cama de nós dois
E a força de um adeus antecipado
Guardava uma outra noite p’ra depois
Guardava este silêncio de nós dois

E mesmo com o correr dos quatro ventos
A querer de nós o fim, de nós o adeus
Como punhais de mel e olhares atentos
Jurei ao grande mar
Grande mar dos meus lamentos
Cravar-te ao corpo os beijos que são meus
No tempo de correr dos quatro ventos

Hoje passo p’las ruas como vês,
À espera de outro dia, como agora
Chegou um outro amor que o amor desfez
E deixa esta saudade noite fora
Daquele tempo, amor, a esta hora
Daquele tempo, amor, a esta hora

Bons tempos

José Galhardo / Arnaldo Martins de Brito
Repertório de Carlos Ramos

Tempos antigos, tempos passados
Tempos de artistas
Tempos mornos que eu vivi
Velhos amigos, velhos pecados
Velhas fadistas 
Que eu não vejo agora aqui

Já lá vão todas, já lá vão todos
Já lá não falta senão um 
Que espera a vez
Foram-se as modas, foram-se os modos
Foi toda a malta 
Do meu tempo com vocês

Chorai, chorai
Por mim, por mim
Rapaz do tempo que lá vai
E eu vi no fim
Passou, passou
Morreu, morreu
E deste mundo que acabou
Fiquei só eu

Vi as esperas, vi as toiradas
Pegas e tudo 
No bom estilo português
Vi as galeras, vi as cegadas
O velho entrudo 
Com bisnagas e chéchés

Vi a avenida com luminárias
Toda empedrada 
A preto e branco sem metrô
Coisas da vida, extraordinárias 
O agora é nada 
Ao pé de tudo o que findou

Sonho fadista

Pedro Fortes Figueira / Popular *fado corrido*
Repertório de Ricardo Ribeiro


Sonhei que o fado corrido
Fugiu num barco doirado
E no mar anda perdido
Com saudades do passado


Neste mundo transcendente 
Uma eterna fantasia
Na tristeza ou na alegria 
Vai sonhando toda a gente
Assim eu sentidamente 
Com tristeza e desagrado
Tive um sonho apaixonado 
Muito embora dolorido
Sonhei que o fado corrido
Fugiu num barco doirado


E sonhando constrangido 
Como sincero fadista
A minh’alma saudosista 
P’la tristeza foi vencida
Só porque sonhei sentido 
Por ver um sonho magoado
Que o corrido, o triste fado 
Ausentou-se condoído
E no mar anda perdido
Com saudades do passado

Quis Deus que fosses Maria

Gonçalo Salgueiro / Joaquim Campos *fado tango*
Repertório de Gonçalo Salgueiro


Quis Deus que fosses Maria
Minha mãe, minha ternura
A que a vida por mim daria
Livra-me desta amargura
De nunca ter alegria

É todo teu o meu fado
É por ti que ainda canto
Apenas por ti amado
Só tu ouves meu pranto
Só por ti sou desejado

E mesmo não tendo mais nada
Que esse teu amor profundo
Ó minha mãe adorada
Mesmo deixando este mundo
Sempre serás minh’amada

Tantos caminhos

Tiago Torres da Silva / José António Sabrosa
Repertório de Ricardo Ribeiro

Existem tantos caminhos
Onde os homens vão sózinhos
Em busca de uma ilusão
Passo a passo, quem avança
Só vai andando na esperança
De enganar a solidão

Dá-se um passo e outro passo
Mas quando chega o cansaço 
E a gente pensa em parar
Por castigo ou por má sina
Há uma força divina 
Que nos obriga a andar

Existem tantas estradas
Onde se notam pégadas 
Que o vento não apagou
São pégadas que se arrastam
Mas que no tempo se gastam 
E ninguém por lá passou

Por isso sigo, seguindo
Há medida que vou indo 
Sei que nesta caminhada
Não se chega a um lugar
Só nos resta caminhar 
Porque só existe a estrada

A alma celta do fado

Pedro Assis Coimbra / Pedro Amendoeira
Repertório de Joana Amendoeira


Diz que seria da nossa cidade
Sem as festas, sem a tua ternura
Como poderia viver, viver sem ti
A vida toda à tua procura


Sim, sorri assim, sorri p’ra mim
Pássaro azul saído do mar
Toutinegra do meu país a sul
Nesse voo que prende o meu olhar


Quando naquele dia sonhei
Que chegavam barcos doces e beijos
Na abundância da água, provei
O melhor medronho dos teus lábios

Sorri assim, olha assim para mim
Em viagem prolongada sobre o mar
Andorinha da nossa primavera
Lua nova que apetece cantar

Entreabre as portas do destino
A alma celta do fado antigo
No litoral, no cais do violino
Vertigem da noite passada contigo

Tive uma vida, deixei-a

Gonçalo Salgueiro / Popular *fado corrido*
Repertório de Gonçalo Salgueiro


Sou filho da lua cheia
Do sol um filho bastardo
Tive uma vida, deixei-a
Por nunca ter sido amado

Sou como o mar selvagem 
Que tudo mata e destrói
Por não encontrar coragem 
De aceitar o que me dói

Sou do fogo a chama 
Sou o vento, o tudo, o nada
Sou o abismo que brama 
Tua ausência prolongada

Sou alma que flameja 
Sedenta da vingança
A boca que ninguém beija 
A voz que não te alcança

Sou o fumo da candeia 
Que se extingue neste fado
Tive uma vida, deixei-a 
Por nunca ter sido amado

Todas as horas são breves

Hélder Moutinho / Francisco Viana *fado vianinha*
Repertório de Joana Amendoeira


Todas as horas são breves
Todos os dias são horas
Todo o amor que me deves
Aumenta quando demoras

Vejo as sombras do desejo
Que tenho por te encontrar
Em cada noite há um beijo 
Que nunca te posso dar

Na brisa da tarde calma 
Onde nasce a primavera
Nasce a dor na minha alma 
P’ra viver á tua espera

Sou do monte, sou da serra 
E os teus olhos são do mar
É tão longe a minha terra 
Que não te posso alcançar

Quando chegares a sorrir 
Não me tragas compaixão
Depois, terás de partir
Partir o meu coração

Sou moinho abandonado

Gonçalo Salgueiro / Georgino de Sousa
Repertório de Gonçalo Salgueiro

Sou moinho abandonado
Em terreno enlameado
Em paisagem tão sozinha
Meu amor foi embora
Cansou do tempo de outrora
A solidão é toda minha

As velas rasgam saudades
Trazendo cruas verdades 
Que o vento canta ao passar
No coração do moinho
Ainda chora baixinho 
A semente deste amar

No amargo deste pão
Ao calor da minha mão 
Peço ao vento p’ra trazer
Esse amor tão desejado
P’lo mundo condenado
A semente por nascer

Pede à saudade

António Rocha / Manuel Mendes
Repertório de Gonçalo Salgueiro


Pedi tão pouco... 
Tudo te dei... és o meu fado
Sei que fui louco... 
Porque te amei... sem ser amado

Quando a verdade 
Se atravessar no teu caminho
Pede à saudade 
P’ra te lembrar o meu carinho

Pede à saudade
Eu sei que vais ter saudade
Quando um dia a solidão 
Te recordar o passado
E se em verdade

Precisares dum ombro amigo
Sabes que estarei contigo
Basta pedires à saudade

Podes sorrir... 
Fazer alarde... pouco me importa
Sei que hás-de vir... 
Mais cedo ou mais tarde... bater-me à porta

Se é que preferes, que seja assim
Ri à vontade mas se quiseres saber de mim
Pede à saudade

Há mais fado que garganta

Letra e musica de Amélia Muge
Repertório de Joana Amendoeira


Há mais fado que garganta
Como há mais mar que marés
E mais amor que amar
Muitos mais passos que pés

Como há mais luz que velas
Mais energia que força
Mais fogo do que fogueira
E mais lume que lareira

É o fado um bailado a contra-luz
Inventado na figura de uma sombra
Que de espanto e de penumbra 
A nossa alma sustenta
Estranha luz que alimenta 
Um sopro que nos deslumbra
Nos desfaz e nos encanta
Nos revela que há mais fado
Há mais fado que garganta

Há mais fado que garganta
É do fado esse condão
E nós sabemos que sim
Sem perguntar a razão

É uma coisa que acontece
Nos envolve e nos espanta
Há fado p’ra lá do som
Do silêncio, da guitarra

Túnel de saudade

Gonçalo Salgueiro / Jaime Santos *fado sevilha*
Repertório de Gonçalo Salgueiro

No meu túnel de saudade
Que me dói ao percorrer
Vou parar ao coração
Que não encontra a razão
De tal viagem fazer

Continua tentação 
De correr via tão escura
Sem saber o que esperar
Num coração a teimar 
A razão desta procura

Perdido na escuridão 
Num constante vai e vem
Este amor já não tem cura
É uma forma de loucura 
Não ter o amor de ninguém

Volto atrás no caminho 
Quero ir de novo à luz
Pois sei que não vou encontrar
A razão de arrastar 
A saudade numa cruz

O teu olhar é Portugal

Letra e musica de Fernando Girão
Repertório de Joana Amendoeira

Alfama banhada pelo sol
A tua luz é divina
Á tua volta envelhece Lisboa
Mas tu, sempre menina

Por ti passam os homens 
Mas tu, sempre senhora
Transformas o agora 
Num passado futuro
E os teus pátios interiores
Que histórias, que amores 
Nos poderiam contar

Como a Ribeira do Porto
Tem concerteza o direito 
A ser parte da nossa história
Já foram tantos desgostos
Já foram tantas as cheias
Que dizem que uma sereia 
Que guardava um tesouro
Fugiu das águas do Douro
Tornando-se padroeira 
Da gente daquele lugar

Oiro é a cor das águas do Tejo
Como os barcos que navegam no Douro
Os teus olhos são de azeite mouro
E o teu olhar é Portugal

Cálice de perdão

Gonçalo Salgueiro / Acácio Gomes *fado acácio*
Repertório de Gonçalo Salgueiro


Minha dor é um convento
Cheio de sombras por dentro
Onde o sol não quer entrar
Sombras são feitas de ti
Silhuetas que esculpi
Sem a luz do teu olhar

As paredes frias, nuas
Escondem saudades tuas 
Que o luar me vem mostrar
No templo és oração
Meu cálice de perdão 
Por viver só p’ra te amar

Passam noites passam dias
Sinos dobram agonias 
Que o vento geme por mim
Neste convento onde moro
Rezo, canto, grito e choro 
Ninguém sabe que é por ti!

Ambiente do fado

Adelino dos Santos / Frederico de Brito
Repertório de Manuel Fernandes

Há quem fale do passado 
P’ra dizer bem do presente
E jure que o pobre fado 
É o pecado de muita gente

Melopeia que’inda existe 
E a mesma graça contem
Mesmo assim alegra ou triste
Nunca fez mal a ninguém

Quem nunca andou na Mourama
E não viu Alfama das cigarreiras
Quem não entrou nas touradas
E nas patuscadas zaragateiras
Quem do povo andou ausente
E nunca o compreendeu
Desconhece o ambiente
Em que este fado viveu

Dizem que o fado existia 
Só onde havia tristeza
Mas cantou-se á luz do dia
Numa alegria bem portuguesa

Pode estar acostumado
A chorar o nosso mal
Mas que culpa tem o fado 
Do azar de cada qual

Amor duma só hora

Gonçalo Salgueiro / Alfredo Marceneiro *fado versículo*
Repertório de Gonçalo Salgueiro

Descalço, corro as ruas noites fora
Caminhando, caminhando sem parar
Onde estás ó meu amor d’uma só hora
Onde estás meu amor, para te abraçar

Esta dor que corre em mim cada segundo
Só pede à terra, ao céu o teu abraço
Nada sou, nada mais tenho neste mundo
Meu amor, sem teu amor, sem teu regaço

Grito ao vento pelo teu nome em solidão
Chora a noite nosso amor eternamente
Brotam lágrimas das pedras plo chão
Onde estás meu grande amor, amor ausente

Não te alcanço, não me encontro, desespero
Vou voltar à liberdade indesejada
Preso ao mundo onde apenas por ti espero
Sem amor, sem teu nome, sem ter nada

Fado novembro

Duarte / Popular *fado menor*
Repertório de Duarte


Trago em todos os meus fados
Um não sei que de saudade
Corações danificados
E dias sem ter vontade

Trago em todos os meus fados 
Aquela melancolia
De quem anda sem cuidados 
De fazer das noites, dia

Faço coisas que não digo 
Digo coisas que não faço
Às vezes fado é castigo 
Outras vezes é cansaço

Por cada fado que canto 
Pago uma noite perdida
Mas se eu perdesse este canto 
Perdia também a vida

Flor da beira rio

Verónica / António José
Repertório de Vasco Rafael


Maria era flor feita mulher
Maria era flor da beira rio
Não era uma flor para qualquer
E de quem ela foi, não, ninguém viu

Tanto era uma flor feita ternura
Como era uma flor de tempestade
De mãos bem apoiadas na cintura
Mais flor e corpo e alma da cidade

Nome de barco e canoa 
Gaivota de Portugal
Tudo a gente te perdoa 
Pois nada te fica mal
Flor desta velha Lisboa 
De chinelas e avental

Quando ela punha a canastra á cabeça
Maria tinha a Ribeira com ela
Contudo, por mais estranho que pareça
Agora já ninguém mais sabe dela

Quem saberá dizer porque partiu
E hoje quem passar, seja quem for
Repara com pesar, que a beira rio
Ficou mais triste sem a flor

Quem diz

Carlos Conde / Pedro Rodrigues
Repertório de Ilda Silva

Quem diz que o fado se aprende

Não conhece não entende
Suas doces melopeias
O fado para ser fado
Deve correr misturado
No sangue das nossas veias

Quem diz que o génio fadista 
Só com palmas se conquista
Deve sofrer de ilusão
Fadista não é quem canta 
É quem filtra na garganta
O que sente o coração

Quem diz que o fado não é 
Uma cadência de fé
De uma toada imortal
Não conhece concerteza 
A canção mais portuguesa
Das canções de Portugal

No fado, p’ra se vencer 
Não basta apenas manter
O amparo de gente amiga
O que é preciso é ter garra 
Abraçar uma guitarra
E cantar uma cantiga

Eu gosto daquela feia

Albino Paiva / Júlio Proença *fado puxavante
Repertório de José Coelho

É feia mas gosto dela
Tenho-lhe tanta amizade
Como se fosse a mais bela
Das jovens da sua idade

É feia sim, vejo bem / O meu olhar não se ilude
Tem raras prendas porém / Honra nobreza e virtude

Mesmo feia é a meu gosto / Gosto dela e com razão
Não tem beleza no rosto / Mas tem-a no coração

Se os homens, almas daninhas / Só quisessem mulheres belas
Ai das feias, coitadinhas / Ninguém casava com elas

Meu coração não receia / A calúnia rasteirinha
Eu gosto daquela feia / Feia sim, mas é só minha

Barco à deriva

Artur Ribeiro / Jorge Fontes
Repertório de José Manuel Castro 


Eu busquei por esse mundo 
Lugar para eu viver
Fui até me convencer 
Que a igualdade é um mito

No meu errar vagabundo 
Devo ter feito lembrar
Barco á deriva no mar 
Em busca do infinito 

Barco à deriva
Perdido no mar salgado
Por todos abandonado
Ao sabor da direção
Barco à deriva
Que um dia saiu do cais
E não chega nunca mais
A porto de salvação 


Temos o mesmo fadário 
De não saber como ir
Como tu, ando a fugir 
À fúria dos vendavais

Também fico solitário
Também me sinto maldito
Pois no mundo em que habito 
Eu sinto que estou a mais

Alfama

Henrique Perry / Joaquim Campos *fado vitória*
Repertório de Gabino Ferreira 

Alfama antiga dos nobres 
Morada do velho Gama 
E da primeira nobreza
Hoje és o berço dos pobres
Mas mesmo, assim velha Alfama
Mostras que és bem portuguesa

Alfama, pela manhã
Parece uma cidadela 
Onde a ambição não existe
Moira tornada cristã
Tua canção é mais bela 
Cantada num fado triste

Alfama, Santa Luzia
Velando por ti velhinha 
Pelas tuas tradições
Quer de noite ou quer de dia
Estás sempre aos pés da santinha 
Em constantes orações

Velha mãe da minha mãe
No teu encanto bairrista 
Alfama tu tens amarras
És a minha mãe também
Por isso é que sou fadista 
Nasci ao som das guitarras

Perdidamente

Florbela Espanca / João Gil
Gravado pelo grupo Al Mouraria


Ser poeta é ser mais alto, é ser maior
Do que os homens, morder como quem beija
É ser mendigo e dar como quem seja
Rei do reino de áquem e de além dor!

É ter de mil desejos o esplendor

E não saber sequer que se deseja
É ter cá dentro um astro que flameja
É ter garras e asas de condor

É ter fome, é ter sede de Infinito

Por elmo, as manhãs de oiro e de cetim
É condensar o mundo num só grito

E é amar-te, assim, perdidamente

É seres alma, e sangue, e vida em mim
E dizê-lo cantando a toda a gente

Lisboa que amanhece

Letra e musica de Sérgio Godinho
Versão de Carlos do Carmo

Cansados vão os corpos para casa 
Dos ritmos imitados de outra dança 
A noite finge ser 
Ainda uma criança de olhos na lua 
Co'a sua cegueira da razão e do desejo 

A noite é cega e as sombras de Lisboa
São da cidade branca a escura face
Lisboa é mãe solteira
Amou como se fosse a mais indefesa princesa
Que as trevas algum dia coroaram 

Não sei se dura sempre esse teu beijo
Ou apenas o que resta desta noite
O vento, enfim, parou
Já mal o vejo por sobre o Tejo
E já tudo pode ser tudo aquilo que parece
Na Lisboa que amanhece

O Tejo que reflete o dia à solta
À noite é prisioneiro dos olhares 
Aos Cais dos Miradoiros 
Vão chegando dos bares os navegantes 
Amantes das teias 
Que o amor e o fumo tecem 

E o Necas que julgou que era cantora
Que as dádivas da noite são eternas 
Mal chega a madrugada 
Tem que rapar as pernas para que o dia 
Não traia Dietriches 
Que não foram nem Marlénes 

Em sonhos, é sabido, não se morre
Aliás... essa é a única vantagem
De após o vão trabalho o povo ir de viagem
Ao sono fundo, fecundo
Em glórias e terrores e aventuras 

E ai de quem acorda estremunhado 
Espreitando p'la fresta a ver se é dia
Ai essas ansiedades 
Ditam sentenças friamente, ao ouvido
Ruído que a noite a seu costume transfigura

O fado que vejo

Letra e musica de Ricardo Anastácio
Repertório do grupo Al Mouraria

Passeio a realidade
Algo toca o espirito
E toma liberdade 
Na harmonia do que está escrito

Estendo a mão a receber 
Um conto a encantar
Desenhando uma mulher 
Que a vida vem embalar

Meu fado, és tu que eu vejo
Em cada lampejo p
ortuguês 
No meu olhar
Falar contigo, entoa
Este velho país num futuro por achar
Cantar o teu povo, o seu sentimento
Soltar um poema cá dentro e que sente
Fado, és vida da tua gente

A alma de um fadista 
Vinda do beco da cidade
A história bairrista 
E uma guitarra de saudade

Tudo isto em seu refrão 
Que se afirma e sabe de cor
Seja castiço ou de salão
Seja menor ou maior

Primeiro beijo

Carlos Tê / Rui Veloso
Gravado pelo grupo Al Mouraria


Recebi o teu bilhete 
Para ir ter ao jardim
A tua caixa de segredos 
Queres abri-la para mim

E tu não vais fraquejar
Ninguém vai saber de nada
Juro não me vou gabar
A minha boca é sagrada

De estar mesmo atrás de ti
Ver-te da minha carteira
Sei de cor o teu cabelo
Sei o shampoo a que cheiras

Já não cômo, já não durmo
E eu caia se te minto
Haverá gente informada 
Se é amor isto que sinto

Quero o meu primeiro beijo
Não quero ficar impune
E dizer-te cara a cara
Muito mais é o que nos une

Que aquilo que nos separa

Promete lá outro encontro
Foi tão fugaz que nem deu
Para ver como era o fogo 
Que a tua boca prometeu

Julgava que a tua língua 
Sabia a flor do jasmim
Sabe a chicla de mentol 
E eu gosto dela assim

Fado ao sabor da sorte

Letra e musica de Valentim Filipe
Reportório do grupo Al Mouraria


Fado, fado vida, fado ardente
Fado novo que se sente
Nas cordas duma emoção;
Fado, fado sina de mulher
Que seja o que Deus quiser
Na mágoa duma canção

Fado de amor e de dor
Doce canto de saudade
Dois amores, vinho tinto 
Entornado em liberdade

Fado triste, fado louco
Que façam pouco, é o destino
Fado incerto de um poema 
Rasgado num desatino

Fado antigo
Fado amigo
Fado corrido ou vadio
Fado que nasce no peito 
Como a nascente de um rio
Fado vida
Fado morte
Fado de ser ou não ser
Quem anda ao sabor da sorte 
Tem de aprender a viver

E quando é já madrugada 
O fado toca o destino
Na noite embriagada 
O fado é outra vez menino

Verdes anos

Pedro Támen / Carlos Paredes
Repertório do grupo Al Mouraria


Era o amor que chegava e partia
Estarmos os dois
Era um calor que arrefecia
Sem antes nem depois

Era um segredo 
Sem ninguém para ouvir
Eram enganos
E era o medo de amar-te a rir
Dos nossos verdes anos

Foi o tempo que secou
A flor que ainda não era
Como o Outono chegou
No lugar da Primavera

O nosso sangue corria
No vento de sermos nós
Nascia a noite e era dia
E o dia acabava em nós

Ao sabor dos sonhos

Filipa de Sousa / João Maria dos Anjos
Repertório de grupo Al Mouraria

Quem sou eu afinal
Neste mundo irreal
Fujo de mim e do mundo
Por linhas marcadas da vida
Procuro a frase sentida
Entregue ao sonho profundo

Não sei quem sou, nem que faço 
Tento encontrar meu espaço
Onde vou ou deixo de ir
No refúgio dos sentidos 
Em sonhos indefinidos
Perco-me no teu sorrir

Deixei que os sonhos entrassem 
P’ra que eles me levassem
Ao mundo de amor e poder
Não sei sequer, quem tu és 
Mas vendo o mundo a teus a teus pés
Deixo as frases por dizer

Silêncio e tanta gente

Letra e musica de Maria Guinot
Gravado pelo grupo Al Mouraria


Às vezes é no meio do silêncio
Que descubro o amor em teu olhar
É uma pedra, é um grito
Que nasce em qualquer lugar

Às vezes é no meio de tanta gente
Que descubro afinal aquilo que sou
Sou um grito, sou uma pedra
De um lugar onde não estou

Às vezes sou o tempo 
Que tarda em passar
E aquilo em que ninguém 
Quer acreditar
Às vezes sou também 
Um sim alegre ou um triste não
E troco a minha vida 
Por um dia de ilusão

Às vezes é no meio do silêncio
Que descubro as palavras por dizer
É uma pedra, é um grito
De um amor por acontecer

Às vezes é no meio de tanta gente
Que descubro afinal p'ra onde vou
E esta pedra, e este grito
São a história d'aquilo que eu sou

A gente cresce, cresce

Letra e musica de Carlos Paião 
Gravado pelo grupo Al Mouraria
Do repertório de Joel Branco

Já todos nós tivemos 
Um amor há muito tempo
Desses que não se diz 

Se são mesmo a sério 
Ou de momento
Foi uma paixoneta 
De risada e de birrinhas
Mas tudo muito simples

Como quem brinca ás casinhas

Já todos nós escrevemos 
Cartas cheias de paixão
Mais erros que palavras

O que contava era a intenção
Já todos nós quisemos 
Ser também apaixonados
Como no cinema os namorados


A gente cresce, cresce 
E julga que é alguém
A vida sobe e desce 
E o amor também
E a gente cresce cresce
Amando mais e mais
E como que adormece 
Em mil amores iguais
E enquanto a gente cresce 
Há tanto em que pensar
Mas tudo o que acontece 
Só nos faz lembrar
A gente cresce, cresce
A ida toma cor
E nunca mais se esquece
Do primeiro amor

Já todos nós sorrimos 
Com as nossas desventuras
Dessas paixões antigas

Mil promessas, mil ternuras
E de olhos fechados 
Nós então compreendemos
Que lá bem no fundo, não crescemos

Sou a cidade de ti

Silva Ferreira / Raul Ferrão *fado carriche*
Repertório de Chico Madureira


Se te perdesses, querida
Nos braços desta cidade
No meu sol terias vida
Nas minhas ruas, saudade

Se num largo sem ter sombras 
Ficasses á minha espera
Cobriam-te asas de pombas 
E já sabias quem era

Numa calçada que sou 
Podias parar cansada
Que das árvores que dou 
Terias sombra parada

Se te perdesses, amor 
Nos braços desta cidade
Corrias ruas de cor 
No meu amor amizade

E neste jardim que tenho 
E nestas sombras que dou
Descobrias donde venho 
E saberias quem sou

Lua cheia

Letra e musica de Belo Marques
Repertório de Carlos Barra

Aqueles dois velhinhos 
Bem casados, namorados
De quem me lembro c
om saudade infinda
Deixaram este mundo 
Á mesma hora e agora
Repousam lá no céu, t
alvez ainda

Viviam na casinha 
Pequenina, da colina
Velhinha como o canto dos riachos
Um quintaleiro fresco
Uma horta e à porta
Uma roseira com formosos cachos

E a Tia Maria 
Sorria, sorria por tudo e por nada
E punha, ladina 
Um rir de menina na cara enrugada
Seu homem, coitado
Alegre ou zangado fingia amuar
Soltando queixumes
Talvez com ciúmes do próprio luar

E quando p’la noitinha 
Se sentavam na casinha
Ia aninhar-se entre os dois, a lua cheia
Eis que os seus lindos olhos 
Se cruzavam e lembravam
Crianças a brincarem sobre a areia

Crianças casaram
Crianças ficaram pela vida infinda
70 anos idos
Morreram unidos, crianças ainda
E agora à noitinha
Naquela casinha que parece morta
Há formas sombrias de mãos fugidias 
Que batem á porta

Em tudo na vida há fado

Letra e musica de António Alvarinho
Repertório do grupo Al Mouraria


Em tudo na vida há fado 
Embora diga que não
Fado é destino marcado 
Fado está escrito na mão

É jura d’amor, sentida 
Ódios, ciúmes fatais
Com tanto fado na vida 
Não há dois fados iguais

Sentir a falta de alguém... é fado
Beijar a face da mãe... é fado
Estar teso e não ter vintém... é fado
Não dever nada a ninguém... é fado
Cantar com amor p’ra vocês... é fado
Ter algo no fim do mês / é fado

Chegar a casa cansado

Deitar-se p'ró lado e a mulher a ver
E nada poder fazer... é fado
Ter na mesa um bom cozido
Prato preferido e não poder comer
O que é que se há-de dizer... é fado

Ninguém sabe donde vem 
Ninguém sabe onde está
As voltas que a vida tem 
As voltas que o fado dá

O fado a um é passado 
A fado a dois é saudade
E p’ra mostrar que é verdade 
Cantem comigo este fado

Mar, meu destino

Letra e musica de José Bandarra
Repertório do Grupo Al Mouraria


Sul, Oeste, Sudoeste
Costa, Vento, Barlavento, meu amor
O destino é o mar
Que o poeta ao cantar deu vida
A norte fica a serra
E as gentes da nossa terra amiga
Infante, Nau, Adamastor
Não houve parto sem dor

Onde há mar alguém sonha
Porque essa força tamanha
Faz a vida amanhecer
Tráz tempestade e bonança
Música, poesia e dança
Bem-me-quer... mar-me-quer

Ai como me apraz
Olhar este mar que faz
Sonhar com outros mundos
Por aí adiante
Navegar com vaga de levante
Bebê-lo todo de um trago

Música, poesia e dança
Bem-me-quer... mar-me-quer

Andorinha da Primavera

Carlos Maria Trindade / Pedro Ayres Magalhães
Repertório de Madredeus 
Gravado pelo grupo Al Mouraria

Andorinha de asa negra aonde vais?
Que andas a voar tão alta
Leva-me ao céu contigo, vai
Que eu lá de cima digo adeus ao meu amor

Ó andorinha da Primavera
Ai quem me dera também voar
Que bom que era
Ó Andorinha da primavera
Também voar

Amália por favor

Ennio Morricone / João Mendonça
Repertório do Grupo Al Mouraria


Amália...
Amália...
Amália...

Tens no olhar, na alma e na voz
O verdadeiro fado que há em nós
E preso ás cordas da guitarra 
Vibra o teu coração
Sem saber a razão

Cantas o mar, a terra e o céu
Com o coração na voz 
Que Deus te deu
Sete colinas e varinas 
E mil pregões pelo ar
E o povo a rezar

Há uma voz a cantar
Saudade, teu nome quiseste dar
Á mulher que foi Amália por amar

E a cantar tu dás tanto amor
Que morres p’ra matar a nossa dor

E há sardinheiras nas janelas 
E procissões a passar
E o povo a rezar

Tens no olhar, na alma e na voz
Música no fado que há em nós